Grande parte do sucesso da agricultura brasileira está baseada nas tecnologias introduzidas pela “revolução verde”, a partir dos anos 1960. Este tipo de agricultura foi desenvolvido pelo agrônomo americano Norman Borlaug, prevendo o uso de mecanização, adubação química e de defensivos agrícolas. O Brasil foi um dos maiores campos de testes da revolução verde. Com isso, desenvolveu-se uma forte indústria de máquinas agrícolas, adubos e defensivos.
O mercado dos defensivos agrícolas, também chamados de agrotóxicos, se expandiu junto com o agronegócio, fazendo com que atualmente o Brasil seja o maior consumidor mundial destes produtos, utilizando 16% de todo volume produzido. Aqui, como em todo o mundo, as vendas estão dominadas por seis grandes empresas: Monsanto, Bayer, Basf, Syngenta, Dow, Novartis e Milenia.
A periculosidade dos agrotóxicos e, principalmente, seu uso descontrolado está causando prejuízos em diversas áreas. Grande parte dos rios localizados em zonas de monocultura está parcialmente contaminada por agentes químicos contidos nos produtos, provocando a morte de parte dos ecossistemas. Os próprios produtos agrícolas, também acabam contaminados: em 2009 uma pesquisa da ANVISA detectou restos de agrotóxicos proibidos ou utilizados acima do limite, em amostras de alimentos coletados em 26 estados. Fato recente relacionado com a contaminação de alimentos por agrotóxicos ocorreu em final de 2011, quando o governo americano identificou lotes de suco de laranja provenientes do Brasil contaminados por um fungicida proibido nos Estados Unidos, mas largamente utilizado por aqui.
Por fim, a contaminação acaba atingindo também as pessoas: entre 1999 e 2009 foram notificados pelo SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – Ministério da Saúde/FIOCRUZ) 62 mil intoxicações por defensivos agrícolas e houve o registro de 1876 mortes.
Segundo a maior parte dos especialistas, não é possível manter o nível de produtividade agrícola no mundo, sem o uso dos agrotóxicos – esta opinião, no entanto, não é unânime. Por outro lado, são imensos os volumes de produtos aplicados (e perdidos em parte) na nossa agricultura. Por isso, cabe perguntar até que ponto todas as medidas de prevenção e proteção estão sendo cumpridas pelas partes envolvidas – fabricantes, distribuidores e usuários de agrotóxicos.
Ricardo Ernesto Rose
Jornalista, Graduado em Filosofia e Pós-Graduado em Gestão Ambiental. Atua nos setores de meio ambiente e energia desde 1992. Diretor de Meio Ambiente da Câmara Brasil-Alemanha é editor do blog: www.danaturezaedacultura.blogspot.com