A disputa jurídica que a família Bertin iniciou na última semana contra a empresa Blessed, devido à transferência de cotas de um fundo que detém ações da JBS, foi vista com “surpresa” pelo representante da Blessed no Brasil, Gilberto de Souza Biojone.
No último dia 10 de junho, o escritório do advogado Sergio Bermudes ajuizou uma ação cautelar na 5ª Vara Cível de São Paulo em nome da Tinto Holdings – que pertence à família Bertin – contra a Blessed, empresa sediada no paraíso fiscal de Delaware (EUA).
No processo, os advogados dos Bertin sustentam que a transferência de 348,3 mil cotas do fundo Bertin-FIP detidas pela Tinto para a Blessed é uma “escancarada falcatrua”, uma vez que as assinaturas de Natalino Bertin e Silmar Bertin autorizando a transferência seriam falsas, conforme atestaria laudo assinado pelo perito Celso Mauro Ribeiro Del Picchia, do Instituto Del Picchia.
Questionado pelo Valor, Biojone foi taxativo. “Fizemos a operação de transferência. Eu assinei o contrato junto com o seu Natalino. Ele assinou na minha frente”, disse. Sinval teria assinado o contrato de transferência depois, segundo Biojone.
O representante da Blessed também considera “estranho” que a Bertin tenha demorado tanto para entrar com a ação, já que a transferência das cotas do fundo aconteceu em 11 de novembro de 2010, conforme ele.
Biojone questiona, ainda, o valor atribuído no processo judicial às cotas do fundo Bertin-FIP. Na ação cautelar, os advogados afirmam que “a transferência criminosa tornou-se inequívoca pela diferença entre o valor real das cotas e o minúsculo valor indicado no vicioso instrumento”. Segundo os advogados da Bertin, as cotas transferidas valeriam R$ 970 milhões, e não os R$ 17 mil pagos pela Blessed. “O quanto valia ou deixava de valer não importa, porque esse preço foi negociado e pago. O preço não tem lastro com a JBS, e sim com a receita do fundo, que é muito pequena”, afirma Biojone.
O representante da Blessed vai além. Segundo ele, a participação da Tinto no fundo Bertin-FIP é menor do que os 34,2% que aparecem no último formulário de referência da JBS, protocolado em maio na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “A Blessed tem mais de 90% das cotas do fundo Bertin-FIP”, diz. No documento apresentado pela JBS, a Tinto ainda é chamada por sua antiga denominação: Bracol.
Biojone não revela, porém, quem são os verdadeiros proprietários da Blessed. “São duas empresas estrangeiras, mas não vem ao caso”. O representante também não diz se os acionistas dessas duas empresas estrangeiras são brasileiros. Conforme o advogado Sergio Bermudes afirmou ao Valor ontem, o escritório trabalha com “hipótese” de que a Blessed pertença à família Batista, controladora da JBS.
Segundo Biojone, sua função na Blessed é “meramente burocrática”. Ele diz que a empresa o procurou para representá-la por ser “conhecido no mercado financeiro”. Biojone foi diretor da corretora Socopa e superintendente da Bovespa nos anos 1990. Até março desde ano, era diretor de relações com investidores do frigorífico Rodopa, que pertence ao empresário e ex-diretor financeiro da JBS Sérgio Longo. Desde então, Biojone presta serviços como associado para a Selo Consultoria, que também é comandada por Longo.