A indústria de frango do Brasil, o maior exportador desse tipo de carne e um dos países com menor custo de produção, registrou uma perda de sua competitividade nos últimos anos e vê riscos ter suas vantagens competitivas serem reduzidas ainda mais, caso o país não resolva questões de infraestrutura e diminua a burocracia.
“O país continua competitivo, mas não é mais o player de menor custo da cadeia avícola global”, disse ontem (28) o vice-presidente de Finanças, Administração e Relações com Investidores da BRF, Leopoldo Saboya.
O executivo da empresa que lidera a produção de aves no país disse durante evento do setor em São Paulo que o Brasil ainda se mantém competitivo frente aos concorrentes, mas registra maiores custos de produção, sobretudo com mão de obra nos últimos anos.
Ele considera que existe um “empate técnico” em custo entre os três grandes produtores -Brasil, Argentina e Estados Unidos -, ressalvando que os brasileiros ainda contam com algumas vantagens que ajudam a sustentar sua liderança, como a crescente produção de grãos, um sistema de produção integrado e um grande mercado interno.
“Os problemas que o Brasil passa refletem as dores do crescimento, o país está se desenvolvendo, mas neste processo o país pode perder competitividade”, alertou Saboya, lembrando que o custo de mão de obra no Brasil tem crescido muito, enquanto a produtividade industrial permanece baixa, em comparação a países desenvolvidos ou mesmo a outros emergentes nos últimos anos.
Ele ponderou que, apesar de competitivos, os concorrentes como Tailândia, Argentina e Ucrânia, ainda contam com baixos volumes de exportação frente ao Brasil.
O Brasil chegou a ter 40 por cento de fatia no mercado global de carne de frango em 2005, em meio a um cenário favorecido por câmbio e mão de obra mais barata, mas desde então perdeu participação por custos crescentes.
Estudo recente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) aponta que a participação do Brasil no mercado internacional caiu para 37 por cento em 2012, com o país sendo seguido de perto pelos Estados Unidos no ranking dos exportadores.
“Competitividade lastreada em câmbio e mão de obra barata não se sustenta, isso é transitório, vide a China…, o que se sustenta são fatores estruturantes que precisam ser aprimorados para melhorar a competitividade da cadeia”, disse. “É o perigo do líder de não identificar fatores que podem afetar sua posição.”
Burocracia – Wesley Batista, presidente-executivo da JBS, uma empresa com atuação em carne de frango no Brasil, nos EUA, México e Porto Rico, observou que a perda de produtividade brasileira é agravada pela elevada burocracia do país.
“O sistema trabalhista brasileiro está ficando cada vez mais complicado, estamos dando passo para trás, não estamos melhorando no custo logístico, melhoria de portos e ferrovias… O país perde competitividade em termos de custo Brasil”, disse.
A JBS entrou em aves no Brasil no ano passado, após arrendar ativos da Doux Frangosul, e recentemente anunciou a compra da Seara, o que a coloca em segundo do ranking do setor no país, atrás da BRF.
“O sistema tributário no Brasil está ficando impraticável, é guerra tributária para todos os lados. Isso diminui competitividade no país.”
O executivo comparou a operação da JBS no Brasil e nos EUA, onde a companhia atua no segmento de aves desde 2009, quando adquiriu a Pilgrim’s Pride.
Segundo ele, a empresa tem 75 mil funcionários nos Estados Unidos e um departamento jurídico com quatro pessoas. No Brasil, a empresa tem 80 mil funcionários, e cerca de 50 pessoas no departamento jurídico.
“Tem que discutir como reduzir a burocracia no Brasil”, disse Batista.
Vantagens – No mesmo seminário, o vice-presidente da norte-americana Tyson, James Young, ponderou que a necessidade crescente de alimentar o mundo levará as empresas a buscarem formas mais eficientes de produzir alimentos.
“Brasil e Estados Unidos estão em situação única, com vantagens para alimentar o mundo. O Brasil tem vastos recursos, apesar dos problemas de infraestrutura”, disse o executivo.
Ele ressaltou a melhor infraestrutura dos EUA, mas ponderou que o mandato para biocombustível é um empecilho para o país aproveitar todo o potencial de sua produção de milho, um insumo essencial para a avicultura, com maior peso no custo de produção.
Os EUA produzem etanol a partir de milho, e a indústria do biocombustível compete com as produtoras de carne pela matéria-prima.