O banco de origem holandesa Rabobank, principal financiador privado do agronegócio no mundo, quer internacionalizar o “barter”, operação tipicamente brasileira por meio da qual indústrias de insumos (fertilizantes e defensivos químicos) e tradings financiam o produtor rural em troca de colheitas futuras.
Conforme Lilian Laxer, executiva sênior de relacionamento do banco, a maior participação de países como a China e a Índia no mercado brasileiro de insumos abre caminho para que sejam estruturadas operações de troca “em escala global”. “A China é hoje o maior fornecedor de defensivos para o Brasil e, ao mesmo tempo, o maior importador de soja. É uma operação que faz todo sentido”, diz. No ano passado, os chineses abocanharam 23% do mercado brasileiro de agrotóxicos, segundo dados da indústria.
De acordo com a executiva, há um interesse crescente por parte de empresas chinesas em ‘amarrar’ essas operações e originar soja e algodão diretamente do Brasil, mas nenhum negócio foi fechado até o momento. “É um movimento que deve ganhar força nos próximos anos”, afirma.
Lilian Laxer conta que o Rabobank tenta ainda replicar o modelo em outras regiões, como a Índia e o Leste Europeu. “É um desafio, porque são países com estruturas jurídicas e fundiária diferentes, mas estamos trabalhando nesse sentido”. O maior obstáculo nesses mercados, explica, é a ausência de recebíveis lastreados na produção, como Cédula do Produto Rural (CPR).
As operações de ‘barter’ despontaram no Brasil como uma resposta à escassez de crédito rural. O modelo tornou-se particularmente popular em Mato Grosso, sobretudo a partir dos anos 1990. Na última safra, tradings e fornecedores de insumos asseguraram 41% do ‘funding’ da soja no Estado, segundo a consultoria Agroconsult.
Tradicionalmente, bancos não participam do barter. Segundo Lilian, o Rabobank se interessa pelo modelo desde 2001, mas fechou sua primeira operação estruturada apenas em 2008, em parceria com a multinacional suíça de defensivos Syngenta.
Desde então, os financiamentos à agroindústria lastreados em operações de troca crescem, em média, 30% ao ano. Lilian não revela o volume de crédito concedido por meio do ‘barter’, mas afirma que a modalidade já responde por 40% da carteira de crédito ao setor de insumos.
Nesse modelo de negócio, o banco fornece o capital de giro a fabricantes de insumos e canais de distribuição, que fornecem os fertilizantes e defensivos aos produtores rurais em troca do produto final.
“A parceria com a indústria é fundamental porque nos ajuda a ganhar escala e a chegar a lugares onde não chegaríamos sozinhos. Para a indústria, é interessante porque reduz a necessidade de capital próprio”, diz ela.
Lilian pondera que o “barter” reduz o risco de crédito da instituição financeira, uma vez que os preços envolvidos na troca (insumo, dólar e commodity agrícola) são “travados” no ato.
Além disso, a incerteza quanto ao recebimento (decorrente de uma quebra de safra, por exemplo) é dividido entre os agentes participantes – banco, indústria, revenda e trading. “Quando ganho, não ganho sozinho, distribuo os lucros ao longo da cadeia. Mas, quando perco, não perco sozinho”. Por isso, afirma, o limite de crédito concedido a uma cooperativa ou agroindústria é até dez vezes maior quando lastreada em um operação de barter.
Por essa razão, o barter é hoje encarado pelo Rabobank como o principal caminho para expandir a concessão de crédito corporativo no agronegócio. Segundo Lilian, há no Brasil um mercado potencial da ordem de US$ 5 bilhões para operações de barter “ainda longe de ser atendido”. “O céu é o limite”, diz.