O Brasil é hoje o sétimo maior emissor de gases-estufa. O campeão é a China, seguido pelos Estados Unidos. O Brasil responde por 2,8% das emissões globais, ou 1,48 gigatonelada (Gt CO2 e). Se a boa notícia é que as emissões relacionadas ao desmatamento vêm caindo, a má é que as de todos os outros setores estão crescendo, e muito. No período entre 1990 e 2012, as emissões brasileiras produzidas nos processos industriais, energia, resíduos e agropecuária cresceram bem mais do que a média mundial.
Nesse período, as emissões relacionadas ao uso da terra (o jargão para desmatamento) caíram 35%. Enquanto isso, as do setor de energia (que inclui transportes) subiram 126% (a média mundial foi 37%), os processos industriais, 65%, as de resíduos aumentaram 64%, e as da agropecuária, 45%.
“Estamos crescendo nas nossas emissões de gases-estufa mais do que cresceu a economia brasileira nos últimos dois anos”, destaca o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador de uma plataforma de dados inédita, que será lançada hoje em São Paulo. “Estamos gerando mais emissões por menos riqueza, menos PIB.”
As emissões brasileiras de energia em 2011 e 2012 cresceram 13%, bem mais do que o crescimento da economia no período. A média de crescimento global do setor foi 3%. As dos processos industriais aumentaram 9,4% nos últimos dois anos. “Isso quer dizer que nos últimos anos estamos menos eficientes”, diz Azevedo.
Esses dados fazem parte do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases (SEEG). Trata-se de uma iniciativa inédita do Observatório do Clima, um coletivo de 35 institutos e organizações não governamentais que vem se debruçando sobre os dados de emissões e as políticas públicas brasileiras relacionadas à mudança do clima.
O SEEG, que tem como base os dados oficiais, será apresentado em um seminário com mais de 200 inscritos, entre membros do governo, universidades e ONGs. A iniciativa espera dar visibilidade às emissões de gases-estufa brasileiras e, assim, ajudar a corrigir o rumo das políticas públicas sempre que necessário. É um processo similar ao que vem ocorrendo, há alguns anos, com os dados do desmatamento.
“Queremos disponibilizar as estimativas de emissões de gases-estufa brasileiras de forma consistente e acessível”, explica Azevedo, ex-diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro. Na elaboração da plataforma, teve como parceiros equipes do Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia (Imazon), do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do Instituto Estadual do Meio Ambiente de São Paulo (Iema).
O Brasil já produziu dois inventários de emissões feitos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. São estudos muito detalhados e publicados em 2005 e 2010. O problema é a periodicidade. O primeiro refere-se ao período 1990-1994 e o segundo a 1990-2005. Em 2013, o ministério divulgou uma atualização dos dados chegando até a 2010.
“Embora muito importantes, os dados dos inventários acabam sendo pouco efetivos para políticas públicas, dado o seu descolamento do momento de decisão”, afirma Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
O estudo cobre as emissões de cinco setores – agropecuária, energia, mudanças do uso da terra, processos industriais e resíduos. Também inclui todos os gases-estufa do inventário nacional.
A metodologia do SEEG é baseada nos guias do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) e segue os padrões e fatores de emissão adotados pelo segundo inventário brasileiro de emissões.
A plataforma coloca uma lupa nos dados disponíveis e permite cruzamentos interessantes. Em breve será lançada com divisões por Estado. A ideia é fazer com que as estimativas de emissões brasileiras sejam atualizadas anualmente. Será possível ver, por exemplo, quanto emite uma tonelada de aço produzida no Brasil, ou como evoluíram as emissões do Paraná em determinado período.