O Canadá gostaria de negociar um acordo de livre comércio bilateral com o Brasil, pois acredita ser pouco provável que avance a atual negociação com o Mercosul. Isso indica que a oposição, principalmente da Argentina, a mais abertura comercial está contribuindo para deixar o Brasil cada vez mais isolado no intrincado sistema de acordos bi e plurilaterais que está moldando o comércio mundial.
“Com o Brasil haveria muito mais oportunidades de se trabalhar bilateralmente, se isso fosse possível”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Canadá, John Baird, em entrevista a um grupo de jornalistas latino-americanos, da qual participou o Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
“O Canadá está ansioso para -ampliar o comércio com o Brasil. O desafio são alguns outros membros do bloco, em termos de se chegar a um acordo comercial”, disse Baird, tido como um dos ministros mais poderosos e influentes no Gabinete do premiê conservador Stephen Harper.
Questionado se espera que seja concluído um acordo com o Mercosul, Baird foi claro: “É difícil, muito difícil”, respondeu. “Não pelo Brasil, mas por causa de dois ou três países”. Ele preferiu não citar quais países, mas obviamente se trata de Argentina e Venezuela, com os quais o Canadá tem uma relação ruim.
Mercosul e Canadá já realizaram reuniões exploratórias para avaliar a viabilidade de abrir a negociação formal de um acordo de livre comércio. Autoridades canadenses indicaram, porém, que o país não está disposto a abrir a negociação se não houver chance razoável de concluir o acordo. As palavras do ministro Baird sugerem que isso é pouco provável.
Pelas regras do Mercosul, novos acordos comerciais só podem ser negociados pelo bloco, e não individualmente pelos países-membros. A União Europeia adota essa mesma norma. Já o Nafta (bloco comercial da América do Norte, formado por Canadá, EUA e México) permite que seus membros negociem em separado.
Para estimular um caminho solo para o Brasil, uma autoridade canadense lembrou a experiência do país nas negociações com o Pacto Andino, que começaram com o bloco e acabaram sendo concluída por apenas dois membros (Peru e Colômbia), depois que ficou claro que Equador e Bolívia não queriam avançar.
Assim como Baird, autoridades da União Europeia também destacaram recentemente a dificuldade de avançar nas negociações com o Mercosul, por conta principalmente da resistência da Argentina em abrir seu mercado.
Apesar de enfrentar alguns desafios similares aos do Brasil – uma moeda valorizada, uma indústria sob pressão da concorrência externa e crescente dependência das commodities minerais e agrícolas – o Canadá é uma das economias mais abertas do continente. Junto com México e EUA, forma o Nafta (o bloco comercial da América do Norte). Tem ainda acordo com outros seis países da região (Chile, Peru, Colômbia, Costa Rica, Honduras e Panamá). Os canadenses acabaram de anunciar a conclusão de um tratado amplo com a União Europeia e participam ainda das negociação da TPP (Parceria Transpacífica), que inclui 12 países das Américas e da Ásia.
Na falta de um acordo com o Mercosul, o Canadá reforça seu contato com os países da Aliança do Pacífico, o bloco liberal e pró-abertura comercial formado por México, Chile, Colômbia e Peru. “Temos algumas prioridades na América Latina. Obviamente a Aliança do pacífico é uma delas”, disse o ministro Baird.
O jornalista viajou a convite do CCA – Canadian Council for the Americas