Em uma tentativa de amenizar o grave déficit na armazenagem de grãos em Mato Grosso, estimado em 25 milhões de toneladas, a Aprosoja, associação que representa os produtores de soja e milho do Estado, está articulando a reunião de agricultores em cooperativas para incentivar a construção de estruturas conjuntas de estocagem. O plano da entidade é dividir os custos e abreviar o caminho para solucionar o problema.
Nas últimas semanas, representantes da Aprosoja percorreram as principais regiões produtoras do Estado para tentar quebrar a resistência dos produtores e convencê-los dos benefícios de atuarem juntos. “Existem hoje 15 cooperativas agrícolas bem estruturadas no Estado, mas vemos potencial para se formarem mais 15 no curto prazo”, afirmou Cid Sanches, gerente de planejamento da Aprosoja/MT.
As primeiras cooperativas de Mato Grosso surgiram há pouco mais de uma década, inicialmente focadas na negociação de insumos e na venda da produção. Mas foi há cerca de dois anos que a Aprosoja começou a encampar a ideia de multiplicá-las. À época, um levantamento que colocou na ponta do lápis os números da safra 2010/11, indicou que a rentabilidade dos produtores locais foi até 44% superior quando os agricultores trabalhavam unidos.
“O perfil das cooperativas de Mato Grosso é diferente do que vemos no Sul. Elas atuam mais como intermediárias e surgem não para ajudar a produzir, mas para aumentar a escala. Com o sucesso das primeiras iniciativas, decidimos mostrar aos produtores que isso poderia ser estendido a todo o Estado, mas nosso ânimo se intensificou com os problemas mais recentes de logística e armazenagem”, afirmou Sanches.
A falta de uma cultura cooperativista, que até agora sempre ganhou um pouco mais de fôlego em tempos de crise, é um dos principais motivos apontados para o fraco resultado do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) no Centro-Oeste. Lançado no Plano Safra 2013/14, o PCA entusiasmou o setor ao oferecer crédito de R$ 5 bilhões, com juros de 3,5% ao ano e prazo de pagamento de até 15 anos. O mesmo valor será disponibilizado em todos os ciclos até 2017/18.
Mas a demanda da região está fraca. Como já informou o Valor, o Banco do Brasil, principal operador do programa, recebeu, até 14 de novembro, 47 propostas do Centro-Oeste, que totalizam R$ 149 milhões. E, segundo o Banco Central, apenas R$ 39 milhões foram efetivamente liberados. “Temos essa linha favorável, mas mesmo assim é um risco muito grande para um produtor de mil ou 1,5 mil hectares. Em parceria com os vizinhos, ele ganharia escala e diluiria riscos”, afirmou Sanches.
O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) fez as contas e concluiu que, para produtores de menos de 1,8 mil hectares, sem nenhum armazém de terceiros próximo, a melhor opção é investir em estruturas de estocagem por meio de uma cooperativa. Conforme o Imea, para a construção de um armazém de 60 mil toneladas, com dois “tombos” (número de vezes que o armazém é esvaziado, depois de atingir sua capacidade máxima) por ano, um de soja e outro de milho, e capacidade para atender 20 produtores que cultivam mil hectares cada um, o aporte inicial é de R$ 25,8 milhões.
Otávio Celidonio, superintendente do Imea, diz que ao somar esforços para erguer um armazém e garantir abrigo à produção, o agricultor também pode ser beneficiado pelo diferencial entre os preços dos grãos praticados nos mercados disponível e de balcão.
“Quando o produtor deposita soja ou milho no armazém de uma trading, a cotação vigente é a do mercado de balcão, que embute custos com a estocagem. Se ele é o dono da estrutura, vende ao preço do mercado disponível, que é maior. A diferença histórica entre esses valores é de mais de R$ 2 por saca, e na safra 2012/13 chegou a ficar entre R$ 4 e R$ 8. Mas o investimento é de longo prazo e exige maturidade do grupo de agricultores”, afirmou Celidonio.
Um condomínio de produtores de Querência sentiu que era o momento de dar esse passo e há duas semanas recebeu a papelada que oficializou a criação da cooperativa de produtores do município, a Coopquer. Formalizar a atuação em conjunto foi a saída encontrada para melhorar a negociação de insumos e da produção e de obter amparo legal para a obtenção de crédito.
“No ano passado, tivemos que tirar do bolso R$ 1,6 milhão para elevar nossa capacidade de armazenagem de 10,2 mil para 19,2 mil toneladas. Mas nosso objetivo é ampliar esse volume”, afirmou Edmar Kronbauer, um dos 28 produtores que fundaram a Coopquer.
É fato, contudo, que a burocracia ainda emperra vários projetos. Versada no cooperativismo de armazenagem, a Cooavil, fundada há seis anos em Sorriso, entrou há quatro meses com um pedido de financiamento de R$ 8 milhões no Banco do Brasil, mas ainda não obteve retorno. O montante seria empregado no aumento do fluxo de recebimento, de 480 para 960 toneladas por hora, e na elevação da capacidade estática, de 100 mil toneladas para 112 mil toneladas.
“Nossa ideia era que a estrutura estivesse pronta nesta safra 2013/14, mas talvez só consigamos isso para a safrinha do ano que vem”, afirmou Anderson Oro, gerente da Cooavil.