O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem intensificado sua atuação no exterior. O foco atual é aumentar a presença em países africanos, onde, nas palavras do superintendente da área internacional do banco, Sérgio Foldes, “há muitas oportunidades de negócios”. “Nós temos oportunidades em Angola, Nigéria, Gana”, observa. Um exemplo desse objetivo foi a inauguração de escritório em Johannesburgo, na África do Sul na última sexta-feira.
De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, tentar aumentar a presença do BNDES na África tem relação com a intenção tanto do setor público quanto privado de melhorar a pauta de exportação. “Na África temos mais oportunidades de exportar nossos produtos manufaturados”, exemplificou. “Em Londres [onde o BNDES já tem uma subsidiária], a demanda maior é por insumos”, acrescentou o especialista.
Castro explica que, por meio dos financiamentos do BNDES, as empresas têm mais condições de entrar no mercado africano de infraestrutura e competir com a China, que detém 40% desse mercado. “O Brasil possui apenas 3%”, afirma. “Por isso, avalio que o BNDES está na direção certa. Neste momento, os países africanos devem ser focados”, acrescentou o especialista.
O presidente da AEB diz que serviços de engenharia são os mais procurados pelos africanos, o que se adquiridos dos brasileiros, também podem importar bens de capital e manufaturados produzidos neste País.
Foldes afirmou ao DCI que o orçamento do banco de fomento para empréstimos na área de comércio exterior gira em torno de US$ 10 bilhões por ano. E para a África, fica por volta de US$ 500 milhões, com previsão de crescimento do valor. “Nosso objetivo é aproximar a relação com as instituições locais, oferecendo aos clientes [que requisitam empréstimos] linhas competitivas [juros menores], de acordo com as práticas internacionais, e maior conhecimento sobre a região.”
O BNDES informou que, desde 2007, foram desembolsados US$ 2,9 bilhões para operações na África, em países como Angola, Moçambique, Gana, África do Sul e Guiné Equatorial. Nestas operações o banco financia apenas a parcela dos investimentos referentes às exportações de bens e serviços brasileiros.
Com relação ao comércio exterior, o saldo comercial entre Brasil e África do Sul, por exemplo, cresceu 24% na comparação entre janeiro a outubro deste ano para o mesmo período de 2012, ao passar de superávit [mais exportação brasileira do que importação] de US$ 764,056 milhões para saldo positivo de US$ 954,574 milhões.
Contudo, o professor de Administração e Economia das Faculdades Rio Branco, Carlos Stempniewski, critica esse movimento do BNDES. “As empresas que mais demandam empréstimos nos lugares onde o governo tenta aumentar sua atuação – África, Bolívia, Venezuela – são as construtoras como a Odebrecht, Queiroz Galvão, entre outras empresas. Como os valores emprestados são muito elevados há um risco muito grande de calote, caso esses países renegociem o contrato”, apontou.
“Na Líbia, as obras que estavam sendo feitas por brasileiros, com a mudança de gestão [derrubada de Muammar Kadafi], passaram a ser feitas pelos franceses. Ou seja, o contrato dos brasileiros não foram mais válidos, e as devoluções dos empréstimos aos brasileiros não foram realizadas. Essa situação pode acontecer na Venezuela, onde o Brasil é atuante”, exemplificou. “O problema é que é o dinheiro do BNDES vem do Tesouro Nacional. Com a necessidade de aumentar o fluxo de caixa do BNDES, o Tesouro precisa emitir mais títulos, o que aumenta a dívida externa, que já está alta, em torno de 65% do PIB [Produto Interno Bruto]” avalia.
Ainda na sexta-feira passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assinou despacho autorizando contrato de financiamento entre a União e o BNDES no valor de R$ 24 bilhões. O recurso será transferido nos termos da Medida Provisória 628. E será remunerado pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Novo escritório
Segundo o BNDES, o escritório em Johannesburgo vai prestar informações sobre as modalidades de financiamento às exportações de bens e serviços brasileiros e sobre os instrumentos de apoio à internacionalização. O escritório não terá caráter operacional. Quando a atuação resultar em uma possível operação de apoio pelo BNDES, o trabalho de enquadramento, análise, aprovação, contratação e acompanhamento dos projetos será realizado a partir da sede do BNDES, no Rio.