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Agroindústrias

Tyson investe em granjas próprias na China para garantir qualidade

Plano é ter 90 granjas em funcionamento até 2015 para abastecer todas as suas fábricas no país.

Tyson investe em granjas próprias na China para garantir qualidade

Aninhada entre pequenas propriedades da zona rural perto de Xangai está uma fazenda enorme, com grandes cuidados sanitários – uma ousada aposta da americana Tyson Foods Inc. que pode prosperar na China, reformulando um modelo de negócios que existe há décadas.

Em vez de comprar frangos de produtores independentes, como ela e outros grandes frigoríficos fazem no mundo todo, a Tyson está gastando milhões de dólares para construir granjas próprias na China. O objetivo é se expandir em um mercado com grande potencial de crescimento ao atacar um dos problemas que mais aflige o país hoje: a segurança alimentar.

Em uma tarde recente, 330.000 frangos estavam espalhados por 16 edifícios ventilados, cada um do tamanho de duas piscinas olímpicas. Câmeras monitoram seus interiores. Os trabalhadores usam uniformes e calçados esterilizados. Cada caminhão que entra no local é pulverizado três vezes com desinfetante.

A Tyson tem como meta ter 90 dessas granjas na China até 2015 e abastecer suas fábricas no país quase que exclusivamente com frangos criados por ela. Atualmente, a empresa tem 20 granjas no país. Há três anos, não tinha nenhuma. Ela quer dobrar a produção local para três milhões de aves por semana, destinada a supermercados e restaurantes, para compensar o lento avanço nos Estados Unidos.

“Nós não estamos conseguindo construir as instalações rápido o suficiente e com certeza estamos indo o mais rápido que podemos”, diz o diretor-presidente da Tyson, Donnie Smith.

Há concorrência. Empresas chinesas como a Fujian Sunner Development Co., fornecedora da rede KFC, lideram o mercado. Várias estão modernizando seu sistema de produção, às vezes com granjas próprias. Adquirir nova tecnologia e práticas de segurança foi um motivo para a chinesa Shuanghui International Holdings Ltd. comprar este ano a processadora americana de carne de porco Smithfield Foods Inc., por US$ 4,7 bilhões.

A Tyson não revela seu investimento ou receita por país. Mas a firma CLSA Americas LLC estima que a receita da empresa na China foi de cerca de US$ 715 milhões no ano fiscal encerrado em setembro e que chegará a US$ 1,1 bilhão no ano fiscal de 2015.

Nos EUA, onde a Tyson é a maior processadora de carne em vendas, a empresa tem contratos com 4.000 produtores que criam os frangos que ela processa. Eles criam cerca de 100.000 aves por vez, assumindo os riscos e administrando as questões logísticas.

Mas esse modelo não funciona na China, onde os pequenos produtores prevalecem. Granjas de pequeno porte, com apenas poucas centenas de aves cada, são difíceis de monitorar no que diz respeito à prevenção de doenças e o uso excessivo de aditivos na ração para acelerar o crescimento do animal.

Isso tem dificultado os esforços das empresas para aproveitar a demanda cada vez maior da emergente classe média da China, país que superou os EUA em 2012 como maior consumidor de frango. Mas, desde então, um novo surto de gripe aviária e outros temores relacionados à saúde derrubaram as vendas.

As firmas brasileiras também têm se beneficiado da demanda crescente. O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, mas só em 2009 recebeu as primeiras autorizações para exportar para a China. Entre as maiores exportadoras brasileiras estão a BRF e a JBS, que afirmaram não ter granjas próprias na China. Tudo que elas vendem lá é exportado.

Em 2012, o Brasil enviou para a China 227.400 toneladas de frango, 16% a mais que no ano anterior, segundo dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Em receita, foram US$ 493 milhões, também 16% superior a 2011. Mas o grande salto se deu em 2011, quando o volume das exportações brasileiras para a China subiu 61%, ajudado pela decisão do governo chinês de impor tarifas sobre o frango importado a firmas dos EUA, que foram acusadas de dumping.

Neste ano, o volume das vendas brasileiras deve cair cerca de 20% porque três plantas exportadoras foram descredenciadas pelas autoridades chinesas. “Isso ocorreu por problemas técnicos, mas elas já devem voltar a exportar no próximo ano”, diz o presidente da Ubabef, Francisco Turra. Ele disse que o Brasil tem hoje 21 unidades de diversos frigoríficos exportando para a China e outras plantas também estão se preparando para exportar para o país em 2014, o que pode elevar o total para 37.

Quanto à Tyson, o mercado de frango da China é fundamental para o plano da empresa de aumentar as vendas da sua produção internacional em pelo menos 12% ao ano nos próximos anos. A Tyson processa frango na China desde 2001. Após dez anos comprando aves de criadores independentes, ela decidiu assumir a produção. “Ficou claro que nós tínhamos menos controle sobre a qualidade e a segurança do produto quando comprávamos os frangos disponíveis no mercado”, diz Malik Sadiq, diretor operacional da divisão da Tyson na China.

A Tyson afirma que, embora as granjas próprias elevem os custos, elas também permitem que a empresa supervisione diretamente a produção. A recompensa pode ser significativa, já que as vendas de aves têm crescido mais do que as de carne de porco, a favorita da China, em parte porque o frango é mais barato.

A americana Cargill Inc. iniciou o processamento de frango na China este ano, abrindo suas próprias granjas e fábricas. A OSI Group Inc., também dos EUA, afirmou que expandiu as granjas que opera no país por meio de uma joint-venture.

A maior parte das vendas da Tyson na China hoje vai para atacadistas e outros frigoríficos, mas a empresa afirma que sua estratégia está fazendo com que ela ganhe mais clientes entre cadeias de restaurantes e varejistas. A empresa espera expandir suas vendas no varejo na China dos 10% do volume total para 20%, mas isso vai exigir um trabalho de marketing para convencer os consumidores a pagar mais por um frango de maior qualidade.

“Os consumidores chineses não pagam”, diz James Rice, ex-diretor de operações da Tyson na China, que hoje trabalha para uma firma de bebidas local. “Na China, 20% dos clientes têm poder de compra e os outros 80% vão comprar o que for mais barato.”