Os preços de produtos agrícolas vitais como o milho e a soja estão subindo novamente, e poderiam levar formuladores de políticas internacionais, produtores e consumidores a uma trajetória de oscilações estonteantes nos próximos meses.
O preço do milho atingiu na segunda-feira um recorde de seis meses, subindo 3% em meio a uma oferta insistentemente comprimida. Os preços da soja subiram 15% desde meados de janeiro, empurrados pela onda de calor que reduziu a produção na América do Sul. Até o trigo, cuja oferta é relativamente abundante, subiu 2% na segunda-feira. A alta continuava ontem (13/03), exceto para o trigo.
Os movimentos recentes do mercado estão empurrando as commodities na direção dos picos vistos em 2011, quando o milho atingiu um recorde e a soja estava sendo negociada aos preços mais altos em três anos, embora as cotações ainda estejam bem abaixo desses níveis.
Mas as condições poderiam mudar radicalmente. Os Estados Unidos terão nesta safra a maior área de plantio de milho desde a Segunda Guerra Mundial, projeta o Departamento de Agricultura do país, aumentando as esperanças de uma colheita abundante, após dois anos de quedas na produção.
“Estamos em um estado de volatilidade. E isso deve perdurar algum tempo”, diz Pat Westhoff, diretor do Instituto de Pesquisa de Políticas para a Agricultura e Alimentos, um centro de estudos da Universidade de Missouri-Columbia. O instituto entregou ao Congresso americano, na semana passada, um relatório alertando que “muitos dos fatores que causaram as oscilações de preços recentes continuam tendo impacto”.
Uma queda na produção sulamericana está alimentando o disparo recente nos preços da soja. No Brasil, o maior produtor de soja do mundo, a seca prejudicou a safra no Paraná e no Rio Grande do Sul, segundo e terceiro principais produtores de soja do País, respectivamente, depois do Mato Grosso. No Rio Grande do Sul, funcionários estaduais calculam um prejuízo total de R$ 5 bilhões nesta safra. “Acho que só agora estamos realmente enxergando a magnitude das perdas”, diz Laércio Pilau, agricultor que é presidente da regional Missões, no Rio Grande do Sul, da Associação Brasileira dos Produtores de Soja.
Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento previu uma redução de 8,7% na safra de soja deste ano em relação ao ano passado, de 69,2 milhões de toneladas para 68,7 milhões. O Departamento de Agricultura dos EUA também reduziu suas estimativas para a produção na Argentina e Paraguai devido à seca. No geral, a previsão é de que a produção mundial caia 7% na safra atual, a maior queda em termos percentuais desde meados dos anos 90, segundo Erin Fitzpatrick, analista do Rabobank.
Os problemas na América do Sul estão elevando os preços, o que é particularmente preocupante para a China, o maior importador do mundo. A soja desempenha um papel central como matéria-prima para a alimentação do rebanho suíno do país, que é a principal fonte de proteína para a população chinesa.
O desempenho da safra de milho também pode ser importante para a China. Se a oferta mundial se comprimir ainda mais, poderia aumentar o risco de que líderes de países exportadores decidam atuar, impondo tarifas ou controlando as exportações para conter a inflação local. Na semana passada, a Índia congelou as exportações de algodão numa tentativa de conter os preços, embora esteja reconsiderando a decisão, indicaram algumas autoridades do país.
“O elemento político deve ser motivo de preocupação”, diz Michael Swanson, um economista agrícola do banco americano Wells Fargo. Por outro lado, uma queda de preços poderia prejudicar os principais países exportadores. Nos EUA, o faturamento líquido dos agricultores deve cair 11,5% este ano, segundo o governo do país; no Brasil e na Argentina, o aumento de preços de commodities como o milho e a soja nos últimos dez anos tem alimentado o forte crescimento da economia, ajudando a reduzir a pobreza e a desigualdade e expandindo a classe média.
O efeito dos aumentos de preços ainda não foi amplamente sentido pelos consumidores. Os preços globais de alimentos subiram cerca de 1% em fevereiro, mas ainda estão 10% abaixo do pico ocorrido em fevereiro de 2011, segundo a FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.