As doenças respiratórias representam hoje, no campo sanitário, a principal causa de prejuízos econômicos ao suinocultor. Apesar da evolução das tecnologias de controle e dos cuidados com a biosseguridade, a suinocultura brasileira assistiu nos últimos anos um aumento na prevalência de problemas respiratórios.
O médico veterinário Marcos Antônio Zanella Mores, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, explica que os suínos são mesmo animais mais susceptíveis a doenças respiratórias quando comparados a outras espécies. Particularidades anatômicas dos pulmões dos suínos, por exemplo, os predispõem às pneumonias. É a forma de criação da suinocultura moderna, no entanto, que mais expõem os suínos a infecções respiratórias. “Hoje os animais são criados em grandes grupos, em espaços relativamente pequenos, favorecendo a manutenção e proliferação dos agentes infecciosos”, explica Mores. De acordo com o pesquisador, a utilização de sistemas contínuos de produção e as misturas de animais de diferentes origens são os fatores de risco mais relevantes para a ocorrência de surtos de doenças respiratórias em suínos.
Etiologia – A investigação das causas das doenças respiratórias na suinocultura é complexa. Normalmente, explica o pesquisador, a infecção é resultado da interação entre dois ou mais agentes. O envolvimento de fatores de risco associados ao manejo e ao ambiente onde os animais são criados também tem peso na etiologia desse tipo de enfermidade. Dada essa complexidade, a comunidade científica suinícola cunhou o termo “Complexo Respiratório dos Suínos” (CRS) para referenciar os quadros clínicos causados por infecções mistas com dois ou mais agentes infecciosos nas fases de crescimento e terminação.
Atualmente os problemas respiratórios predominam na suinocultura brasileira e tomaram o lugar da Circovirose como principal preocupação entre os produtores. Além do aumento do número de casos, está mais difícil controlar as infecções respiratórias. Isso acontece, explica Mores, basicamente por dois fatores. O primeiro é a restrição ao uso de certos tipos de antibióticos, entre os quais as tetraciclinas. “As tetraciclinas eram muito utilizadas e eficazes na prevenção e controle dos problemas respiratórios”, afirma o pesquisador. O segundo e principal fator é a disseminação de agentes virais importantes no rebanho brasileiro, como o Circovírus Suíno do tipo 2 e, mais recentemente, o vírus da Influenza Suína. “Sabe-se que devido às características próprias dos vírus, o controle dessas infecções é bem mais difícil do que o controle de infecções bacterianas nas criações de suínos”, explica Mores.
Diante desse quadro, ressalta o especialista, um ponto de extrema importância que precisa ser considerado pelo setor suinícola brasileiro é manter o País livre da Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS). Segundo Mores, trabalhos feitos nos Estados Unidos e Europa revelam que o vírus da PRRS é um dos principais agentes envolvidos no CRS naquelas regiões.
O recente registro de casos de PRRS na América do Sul, mais exatamente no Peru, acende o sinal de alerta e reafirma a necessidade dos produtores brasileiros redobrarem seus cuidados para evitar a entrada desse vírus no País. “É muito importante manter nosso rebanho livre da PRSS para evitar que os problemas respiratórios causem ainda mais perdas econômicas. Ações nesse sentido devem ser priorizadas pelo setor e pelas autoridades sanitárias”, afirma o pesquisador.
Agentes infecciosos – Estudo realizado por Mores em 2010 analisou as características dos quadros clínicos do CRS no Sul do Brasil. Os materiais colhidos e submetidos para diagnóstico foram analisados no Centro de Diagnóstico em Sanidade Animal (Cedisa). Os resultados das análises histopatológicas e de imuno-histoquímica demonstraram a associação de vários agentes infecciosos na indução da maioria dos problemas respiratórios em suínos. Dos 133 casos estudados, em 105 [79%], as lesões foram sugestivas da associação de dois ou mais agentes. O estudo indicou também os agentes primários mais importantes nos surtos de problemas respiratórios na região Sul do País em 2010. São eles o Mycoplasma hyopneumoniae e o vírus de Influenza. Entre os agentes oportunistas destacam-se a Pasteurella multocida, o Streptococcus suis e o Haemophilus parasuis. De acordo com Mores, trabalhos desenvolvidos por outras universidades (e ainda não publicados) indicam que em outras regiões produtoras de suínos do País os agentes envolvidos são praticamente os mesmos.