Maior produtora de etanol dos Estados Unidos, a multinacional Archer Daniels Midland (ADM) pretende desistir, ao menos temporariamente, dos planos de se tornar relevante nesse mercado também no Brasil. O Valor apurou que a empresa contratou o Bank of America Merrill Lynch (BofA) para vender a única unidade industrial de etanol que mantém no país, no Estado de Minas Gerais, esvaziando um projeto que contemplava a construção de duas outras usinas.
Pelo planejamento inicial da companhia, desenhado em 2008 em parceria com Antônio Cabrera, ex-ministro da Agricultura do Brasil, seriam erguidas plantas em Limeira do Oeste (MG) e em Jataí (GO), com capacidade conjunta de moagem de 6 milhões de toneladas de cana por safra. A empreitada demandaria investimentos de US$ 520 milhões. Uma terceira unidade, em Tarumã (SP), também estava no radar, com aportes calculados em US$ 290 milhões.
Quatro anos depois, contudo, apenas a unidade de Limeira do Oeste saiu do papel, ainda assim com capacidade para 1,5 milhão de toneladas e moagem efetiva de apenas 415 mil toneladas na última safra (2011/12). No mercado, estima-se que a empresa americana tenha investido cerca de R$ 400 milhões no segmento até tirar o pé do acelerador, há quase dois anos.
Nos Estados Unidos, a ADM é a maior produtora de etanol de milho, com cerca de 1,7 bilhão de galões (6,4 bilhões de litros) fabricados em 2011, segundo a Associação dos Combustíveis Renováveis do país (RFA, na sigla em inglês). A segunda maior é a LLC, com 354 milhões de galões (1,3 bilhão de litros), e a terceira é a espanhola Abengoa, com 323 milhões de galões (1,22 bilhão de litros). A Abengoa também colocou à venda suas usinas de cana no Brasil neste ano.
Segundo especialistas consultados pelo Valor, é difícil estimar o valor de mercado da unidade mineira – sobretudo porque os processos de aquisições de usinas estão praticamente parados, sem compradores dispostos a pagar os valores negociados em anos anteriores (entre US$ 120 e US$ 130 por tonelada). “Há pouco apetite nesse momento de crise e muita instabilidade na política para etanol”, diz uma fonte.
Hoje, a múlti americana controla 100% da usina de Limeira do Oeste, mas detinha até o começo de 2011 uma fatia de 49%. Os outros 51% foram repassados à companhia em março do mesmo ano por Cabrera, que abriu uma arbitragem na Câmara de Comércio Brasil Canadá (CCBC) para discutir o valor de venda da participação.
Por conta de baixos investimentos nos canaviais nos últimos anos, o processamento de cana da unidade permanece bem abaixo de sua capacidade industrial. Na safra 2009/10, foi de 156,3 mil toneladas, volume que subiu para 570,9 mil toneladas em 2011/12 antes de baixar para 415 mil em 2011/12. Em 2012/13, o objetivo era chegar a 710 mil toneladas.
Mas, segundo apurou a reportagem, a usina mineira dificilmente entrará em operação neste ano e sua cana deverá ser vendida para a usina vizinha, a Andrade. Procurada, a Andrade não comentou. Após negar veemente no começo deste mês que estava vendendo a usina, a ADM informou na terça-feira, em nota, que “segue buscando opções para o negócio de etanol no Brasil” e que “mantém-se comprometida com a estratégia de açúcar, visando ao aprimoramento da posição competitiva desses negócios no Brasil”. O ex-ministro Cabrera informou, por meio de sua secretária, que não iria se pronunciar sobre o assunto. O BofA não comentou.
As discordâncias entre Cabrera e ADM aprofundaram-se em 2010. Na época, a ADM havia até decidido que colocaria sua participação à venda para a entrada de um sócio interessado em retomar os investimentos no projeto. Mas, em seguida, desistiu da venda, o que motivou o ex-ministro a sair da sociedade e iniciar a arbitragem.