O recrudescimento da crise europeia e a crescente aversão dos investidores a ativos de risco já se reflete de maneira generalizada sobre os preços internacionais das commodities agrícolas.
Pressionadas por vendas de fundos especulativos, os mercados devolveram os ganhos acumulados nos primeiros três meses do ano e já operam nos níveis de 2011.
Ontem, a cesta de produtos de origem agropecuária do índice de commodities Dow Jones-UBS recuou mais 0,44% e atingiu a menor pontuação desde 19 de dezembro (74.147 pontos). O indicador havia subido pouco mais de 4% entre 31 de dezembro e 2 de abril, para 80.933 pontos, mas perdeu força e cedeu mais de 8,3% até o fechamento de ontem. Em 2012, a perda acumulada chega a 4,67%.
Em comparação, o índice CRB (que monitora uma cesta de commodities energéticas, metálicas e agrícolas) recuou 5,52% neste ano. De acordo com analistas, a retração é uma consequência direta das turbulências financeiras irradiadas da Europa, que levaram investidores a reduzir sua exposição aos ativos considerados de risco.
É o que demonstram os números da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), que acompanha a movimentação dos investidores institucionais nos mercados futuros de commodities.
Em praticamente todos os pregões, o que se vê são os fundos reduzindo sua posição comprada (com a qual apostam na alta dos preços) e aumentando sua posição vendida (com a qual tentam se antecipar a uma queda).
Desde o fim de março, fundos reduziram em 85% sua posição comprada em açúcar na bolsa de Nova York – de 135 mil para pouco mais de 20 mil contratos. Em Chicago, sua posição comprada em milho foi reduzida à metade – de um total de 224 mil para 118 mil contratos.
Nos mercados em que predomina a aposta na queda, o tom é cada vez mais pessimista. No mesmo período de comparação, os investidores aumentaram em 36% sua posição vendida em café e em 47% sua posição vendida em trigo, em Nova York e Chicago, respectivamente.
Até duas semanas atrás, a soja vinha sendo poupada dessa aposta contra as commodities. Estimulados por fundamentos claramente altistas – quebra da produção sul-americana, forte demanda chinesa e necessidade de incentivar o aumento da área plantada nos Estados Unidos – os fundos montaram a maior posição de compra da história desse mercado, com mais de 253,8 mil contratos adquiridos.
Contudo, o mercado não resistiu ao aumento das tensões no ambiente financeiro e perdeu sustentação. Na semana encerrada no último dia 8, fundos reduziram em quase 10% sua posição comprada em soja, para pouco mais de 230 mil contratos, de acordo com os últimos números oficiais. No mercado, especula-se, porém, que esse número já esteja perto de 200 mil.
O reflexo sobre os preços é direto. Desde o dia 30 de abril, quando os contratos de soja para entrega em julho superaram a barreira dos US$ 15 por bushel, os preços já cederam 7,84%, para US$ 13,87 por bushel no fechamento de ontem. A cotação é a mais baixa em seis semanas.
Ao diminuir a aposta na alta das commodities, os fundos não apenas reduzem sua exposição ao risco de uma desaceleração significativa na demanda por alimentos e fibras – algo ainda improvável, dado o vigor da economia chinesa -, mas também se ajustam a um cenário de maior estímulo à oferta de países como o Brasil, que experimentam uma desvalorização da sua moeda.
Embora o preço da soja tenha caído quase 8% em dólar desde o dia 30, o preço em real não cedeu mais que 0,6%, conforme o indicador Cepea/Esalq. Em outras palavras, a desvalorização do real abre caminho para que os preços internacionais de algumas commodities – casos de soja, café e açúcar, por exemplo – recuem sem colocar em risco o equilíbrio entre oferta e demanda.