Após meses de pessimismo, os fundos que especulam nos mercados futuros de commodities voltaram a apostar na alta dos preços agrícolas em janeiro.
É o que apontam os números divulgados pela Comissão de Comércio de Futuros de Commodities dos Estados Unidos (CFTC, na sigla em inglês) na sexta-feira.
Após meses enxugando suas carteiras e pressionando para baixo os preços, os investidores institucionais ampliaram de modo expressivo o número de posições compradas em mercados como os de soja, milho, trigo, açúcar, café e suco nas bolsas de Chicago e Nova York.
No mercado futuro de milho, o mais líquido da bolsa de Chicago, os fundos encerraram o mês com uma posição líquida de compra de 194,39 mil contratos futuros, um aumento de 47% em relação ao patamar registrado no fim de dezembro. O número é o maior desde meados de novembro – embora ainda esteja longe dos mais de 400 mil contratos observados há quase um ano.
A posição líquida é o saldo entre os contratos de compra, com os quais os investidores apostam na valorização do ativo, e os de venda, com os quais tentam antecipar-se a uma queda nos preços.
.No mercado de soja, os fundos fecharam o mês com um saldo de 35,5 mil contratos de compra, 65% maior do que o apurado no fim de dezembro e o resultado mais expressivo desde a última semana de outubro.
No açúcar, o movimento dos fundos foi ainda mais expressivo. Seu saldo comprado na commodity mais que dobrou em janeiro, para 93,8 mil contratos.
Tendência semelhante foi observada nos mercados de trigo, café e, principalmente, suco de laranja, embora os investidores tenham reduzido suas apostas na alta dos preços do cacau e do algodão.
Segundo analistas, a melhora do ambiente macroeconômico alimentou o apetite dos investidores por ativos de risco em janeiro. Não só as commodities, mas ações e moedas de países emergentes também foram alvo de maior interesse de compra.
O socorro aos bancos europeus e a divulgação de dados positivos sobre o emprego, principalmente nos Estados Unidos, deixaram o mercado mais animado após meses marcados por notícias ruins e temores de colapso no mercado financeiro. Muitos investidores aproveitaram a trégua para comprar ativos cujos preços estavam muito baixos após meses de queda – as chamadas “barganhas”.
O resultado foi uma recuperação praticamente generalizada dos preços, nos diferentes segmentos de commodities e classes de ativos. Em janeiro, as principais commodities agrícolas registraram a maior elevação em meses, embora algumas tenham perdido o fôlego nos últimos dias (ver gráfico). “Há um retorno seletivo dos fundos para as commodities, embora ainda seja cedo para afirmar que se trata de um movimento sustentável”, afirma Vinicius Ito, analista de commodities do Jefferies Bache em Nova York.
Ele lembra que a posição comprada pelos fundos nos mercados de commodities ainda está longe dos níveis alcançados no fim do primeiro semestre de 2011, quando os mercados começaram a se deteriorar frente às preocupações com a situação europeia.
De acordo com o analista, os fundos tendem a elevar sua aposta nas commodities nesta época do ano devido a questões sazonais. “A maioria das commodities agrícolas e energéticas têm uma tendência de alta no primeiro semestre “, afirma.
Alguns fatores extraordinários também deram força ao movimento. A preocupação com a falta de chuvas na América do Sul, durante um período crucial para o desenvolvimento das lavouras de soja e milho, impulsionou os preços médios dos grãos em Chicago. Efeito semelhante tiveram as recentes restrições impostas pelos Estados Unidos ao suco de laranja importado, que fizeram disparar os preços da commodity na bolsa de Nova York.
Mesmo assim, Ito recomenda cautela. “Apesar do cenário aparentemente melhor, ainda há alguns trilhões de dólares estacionados em mercados de baixíssimo risco devido às incertezas globais, que ainda são enormes,” pondera.