A contínua redução da exposição ao risco por parte dos investidores, temerosos com os rumos da economia mundial – especialmente a europeia -, e a perspectiva de melhora no clima nas regiões produtoras dos Estados Unidos abriram espaço para um “mergulho” nos preços dos grãos pelo segundo pregão seguido na bolsa de Chicago. Em dois dias, soja, milho e trigo já recuaram 6,87%, 2,20% e 6,33%, respectivamente, segundo o Valor Data.
Ontem, os contratos de soja para setembro (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez) fecharam em baixa de 52,25 centavos, a US$ 15,9550 por bushel, em meio a um movimento de realização de lucros, após a oleaginosa ter ultrapassado o patamar histórico de US$ 17 por bushel na semana passada.
Apesar das cotações recordes, as vendas antecipadas de soja no Brasil seguiram em ritmo acelerado. Em Mato Grosso, 57,5% da oleaginosa da safra 2012/13 – que ainda não está plantada – já foi comercializada até a semana encerrada em 20 de julho, um avanço de 9,2 pontos percentuais ante os sete dias anteriores, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A tendência, entretanto, é que os negócios arrefeçam até que esteja mais claro onde os preços vão parar.
Nos EUA, os mapas climáticos mexeram com os ânimos do mercado. “Choveu relativamente bem em parte do cinturão hoje (ontem) e de forma mais intensa que das últimas vezes. Existe ainda um cenário um pouco melhor de chuvas e temperaturas mais amenas para os próximos dias”, conta Vinícius Xavier, consultor da INTL FCStone. Além disso, circularam rumores de que a China talvez não venha a importar as 5 milhões de toneladas previstas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em função dos altos preços, o que ajudou a derrubar a commodity.
A melhora nas condições do tempo nos EUA também pressionou o milho. Os papéis para dezembro sofreram uma queda de 7,25 centavos ontem, a US$ 7,7825 por libra-peso. A baixa foi menos acentuada que a da soja, porque a expectativa é que as precipitações beneficiem mais os plantios da oleaginosa, que somente agora estão entrando em enchimento de grãos, fase decisiva para a produtividade, enquanto o milho já passou por sua fase crítica de desenvolvimento e as perdas são irreversíveis.
As condições das lavouras americanas ainda inspiram atenção. Segundo o USDA, os plantios de milho em níveis bons e excelentes caíram para 26% na semana encerrada em 22 de julho, ante 31% na semana anterior e 62% no mesmo período de 2011. Já as plantações de soja em patamares bons ou excelentes foram reduzidas de 34% para 31%, em relação aos 62% de um ano atrás.
Ainda em Chicago, os preços do trigo recuaram ontem em função da queda do milho e também de um movimento de realização de lucros. Os contratos para setembro sofreram uma baixa de 3,86% (34 centavos), a US$ 8,7875 por bushel. Contudo, as perdas poderão ser limitadas pelos estoques mundiais mais enxutos do cereal este ano, diante da expectativa de menor produção em importantes fornecedores, como Rússia e Austrália, que sofreram com uma seca.