Falta uma estratégia coordenada, envolvendo o setor privado, as lideranças políticas e os vários níveis de governos para que o agronegócio brasileiro ocupe mais espaço no cenário internacional, seja no fornecimento de alimentos, seja no desenvolvimento e produção de bionergia. Esta foi a principal conclusão tirada do 11º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) nessa segunda-feira (6), em São Paulo. O evento contou com a presença de 600 pessoas entre lideranças setoriais, produtores, técnicos e políticos, além de ter sido acompanhado por cerca de 10 mil pessoas na internet.
“O tema do agronegócio tem de entrar na agenda do governo para que gargalos como a falta de infraestrutura de logística, maior entrave ao seu crescimento, sejam considerados prioritários pelas políticas públicas”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Abag, no encerramento do evento. “Sem isso, o setor não assumirá a liderança mundial para a qual já comprovou que tem competência, ficando na dependência de oportunidades episódicas como a da atual quebra de safra de milho nos Estados Unidos”, acrescentou Carvalho.
Na avaliação do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o País deveria ter uma ação coordenada para tirar o máximo proveito desse episódio do milho. “Aqui teria de haver uma negociação ampla, conduzida por várias instâncias de governo para não vender só milho, mas também incluir num grande acordo, firmado entre governos, carne de porco, de frango, produtos lácteos e também suco de laranja”, diz Rodrigues, que coordenou o painel “Políticas Públicas e o Brasil Ofertante de Alimentos e Energia”.
Mas Rodrigues é cético em relação a isso. “O que se nota no governo é que o Ministério da Agricultura trabalha de forma eficiente e vigorosa para promover e estimular o agronegócio. Nossa sensação é de que, enquanto “uma turma”, do ministério, rema pra frente, outra turma não rema ou, pior, rema para trás”, comentou ele. A seu ver, falta articulação e comunicação.
Com tal análise, resumida pelo ex-ministro, concordaram os participantes do painel, Arlindo de Azevedo Moura, presidente da SLC; Jacyr Costa, presidente da Guarani; Homero Pereira, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária; e José Goldemberg, professor da USP e ex-ministro da Educação.
Já outro participante do painel, o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Guilherme Cabral, afirmou que há sim uma estratégia por parte do governo e que já existem, por exemplo, linhas de financiamento de longo prazo voltadas para programas agrícolas com manejo sustentável. “Nós temos hoje instrumentos para mudar essa situação descrita pelas lideranças do setor”, disse Cabral. Ele também sugeriu que a Abag enviasse as principais conclusões e sugestões do encontro para o governo.
O ex-ministro Roberto Rodrigues acrescentou que um detalhado documento com análises e sugestões tiradas dos congressos anteriores foi encaminhado a diversos ministérios, sem que houvesse nenhuma manifestação ou resposta das autoridades. “Não fizemos muito alarde disso, mas lá estava pormenorizada uma série de medidas e procedimentos sugeridos nas áreas tecnologias, tributárias, de segurança jurídica, de política de renda e de defesa sanitária”, esclareceu Rodrigues.
Em relação à queixa recorrente dos empresários do setor na questão da falta de infraestrutura para logística, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Mendes Ribeiro Filho, que também esteve na abertura do Congresso da Abag, afirmou que está próximo de o setor ver equacionado esse problema. Segundo ele, o governo deve anunciar, nos próximos dias, um grande conjunto de medidas voltado diretamente para a melhoria da infraestrutura de logística, especialmente em relação a ferrovias e hidrovias.