Ainda que a disparada dos custos de produção de aves e suínos tenha comprometido os resultados da BRF – Brasil Foods no segundo trimestre deste ano, a sinalização de que a companhia deve promover um repasse de preços “imediato” da ordem de 5% a 10% foi bem recebida pelo mercado. Ontem (14), as ações da BRF subiram 2,37%, a maior alta entre os papéis do Índice Bovespa.
No balanço divulgado na segunda-feira, a empresa reportou um lucro líquido de R$ 6,3 milhões, queda de 98,2% sobre os R$ 497,9 milhões apurados no mesmo período do ano passado.
“A situação dos custos é delicada. O que está acontecendo nos Estados Unidos é muito sério”, afirmou ontem o presidente da BRF, José Antonio do Prado Fay, citando a quebra da safra americana de grãos, que fez disparar as cotações da soja e do milho. Os dois grãos, que compõem a ração dos animais, representam cerca de 75% dos custos de produção de aves e suínos.
Diante da escalada dos custos de produção, o presidente da BRF afirmou que a empresa precisa reajustar “imediatamente” os preços de seus produtos para recuperar as margens da operação no segundo semestre. “Em alguns casos, o repasse deve ser ainda maior”, afirmou o executivo.
No segundo trimestre, explicou Fay, a velocidade da valorização do milho impediu um repasse equivalente dos preços. No período, o custo médio no mercado interno subiu 9,6%, enquanto o preço médio apresentou aumento inferior, de 6,2%. No mercado externo, o descompasso foi ainda maior. O preço médio em dólar recuou 17,7%, enquanto o custo médio registrou aumento de 6,8%.
De acordo com Gabriel Lima, analista do Barclays, o anúncio do reajuste de preços motivou a alta das ações da BRF no pregão de ontem. “O tom otimista em relação ao aumento de 10% explica o movimento”, afirmou o analista.
Apesar da sinalização, o repasse de preços pretendido pela BRF deve levar algum tempo, conforme o vice-presidente de finanças e relações com investidores da companhia, Leopoldo Saboya. Segundo ele, os mercados de carne de frango do Japão e da Europa trabalham com “relação entre oferta e demanda desbalanceada”. Juntas, essas duas regiões responderam por 25,7% das exportações da BRF no segundo trimestre deste ano.
No caso do Oriente Médio, que concentra 35,2% de suas exportações, a empresa já encontra espaço para repassar preços depois de enfrentar uma crise provocada pelo excesso de oferta de carne de frango. “De imediato, estamos vendo o mercado do Oriente Médio reagindo, antecipando custos com preços maiores”, afirmou Saboya.
O vice-presidente de finanças disse, ainda, que a disparada dos custos de produção veio num momento particularmente difícil para a empresa, que lida com as ineficiências operacionais decorrentes do processo de venda de ativos imposto pelo Cade como condição para a incorporação da Sadia pela Perdigão.
Saboya argumentou que, enquanto a alta dos custos no mercado externo foi compensada pela valorização do dólar, as operações da companhia no mercado doméstico não tiveram esse alívio e foram as mais afetadas pela alienação dos ativos para a Marfrig, que teve início em junho. “No mercado interno, não tenho benefício do câmbio e conto com os efeitos transitórios [da troca de ativos]”, justificou o executivo da BRF.