A crise financeira atual é a mais importante desde 1930 (auge da Grande Depressão iniciada em 1929) e vai seguir por mais alguns anos, afirmou nesta quarta-feira (22) o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.
Em palestra na Casa do Saber, no Rio, o economista afirmou que o cenário é continuidade da crise surgida em 2007 nos EUA com o estouro da bolha imobiliária e a quebra de bancos e instituições financeiras.
“Essa crise surgiu do que chamo de um grande rearranjo das placas tectônicas da economia iniciado no final da década de 1980 e início da década de 1990, com várias mudanças mundiais”, disse.
Tendo seu epicentro na Europa, a crise financeira atual não deve resultar na fragmentação da zona do euro, segundo Malan. “Acho que as ações para essa fragmentação ficariam mais caras do que salvar a região”, disse.
Para o ex-ministro, a Europa deve fazer a sua tarefa de casa, de arrumar as contas públicas de seus principais países em crise –Grécia, Espanha, Portugal, Itália e França– e retomar o crescimento econômico.
“A Alemanha pode ter uma atuação mais forte para que isso aconteça. Umas das alternativas é aumentar controladamente sua inflação e estimular o consumo interno. A Alemanha tem recursos para isso”, disse.
De acordo com o economista, os EUA também devem sair da recessão porque se mantém como a principal potência econômica mundial. “Mas é óbvio que ainda precisa controlar suas contas internas. Será um longo período de ajuste”, disse.
Com relação à China, Malan afirmou que o país experimentou um supercrescimento nos últimos anos e que agora caminha para uma acomodação. “O governo chinês previu que seu PIB cresceria entre 7%, 7,5% no quinquênio 2011/2015. Portanto, não há nenhuma surpresa nisso”, disse.
Já sobre o Brasil, o ex-ministro afirmou que o país tem grandes chances de crescer graças ao seu mercado interno. No entanto, ele apontou desafios a ser superados nas áreas de infraestrutura, educação e inovação tecnológica. “Sem resolver esses gargalos não há como crescer”, disse.
MAROLINHA
Integrante do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Pedro Malan criticou o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que declarou que a crise surgida em 2007 não passava de uma “marolinha” para o Brasil.
“Não era para sintetizar [dessa forma a crise de 2007]. Não era ‘marolinha’ como disseram por aí”, disse, a uma plateia de cerca de 50 pessoas.
Para ele, a crise de 2007 e a atual causam reflexos no Brasil, e a demora na sua solução está afetando o crescimento mundial. “O necessário se impõe, mesmo que a custo elevado”, afirmou Malan, ao pontuar as ações necessárias para que o país retome o crescimento esperado.
O economista também disse que o atual governo, ao não alterar as políticas macroeconômicas iniciadas no governo FHC, garantiu a confiança do Brasil no exterior, e que as privatizações atuais –concessões, na versão do atual governo, segundo Malan– são importantes para o crescimento do investimento no país.