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Evento

29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo debate o futuro da cadeia produtiva

O 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado na última semana em Águas de Lindóia (SP), chegou ao seu final e lançou alguns questionamentos.

29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo debate o futuro da cadeia produtiva

O 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado na última semana em Águas de Lindóia (SP), chegou ao seu final e lançou alguns questionamentos. O evento foi pautado por temas de impacto e grande relevância para o segmento, tais como a importância dos estudos em transgenia para o avanço do mercado, o perfil atual das instituições de ensino para formação dos profissionais que atuarão no agronegócio, a agregação de renda com milho convencional, o potencial do mercado para o milho orgânico, o papel das instituições públicas no melhoramento de milho e sorgo no Brasil, os estudos sobre a utilização de sorgo na produção de etanol e a importância da integração lavoura-pecuária-floresta.
O 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo foi promovido pela Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS) e realizado pelo Instituto Agronômico (IAC), em conjunto como o Instituto Biológico (IB), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), os Polos Regionais (Apta Regional), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), que são órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.  O evento conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Milho e Sorgo) e do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
De acordo com Aildson Pereira Duarte, Pesquisador Científico do Instituto Agronômico (IAC) e Presidente do 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, a valorização dos profissionais para o mercado, com a melhoria do ensino e da assistência técnica é uma das chaves para o avanço do setor. “Por isso, focamos a estrutura do evento nas atuais demandas da cadeia produtiva. Nosso objetivo foi o alinhamento com as atuais demandas do mercado visando um amplo desenvolvimento do setor e atingimos nosso objetivo. Com mais de mil participantes, todos puderam acompanhar análises de alto nível, realizadas por excelentes profissionais em cada área específica”, explicou.
Antônio Álvaro Portino, da Embrapa Milho e Sorgo, destacou durante o evento que o mundo vai precisar de muito mais milho. “E quem tem a possibilidade de ‘abraçar’ esta demanda é o Brasil. O ambiente e a conjuntura do mercado são favoráveis. Vivemos um excelente momento para o preço e a produtividade e a realização deste evento não poderia ter sido realizado em melhor momento pois temos que nos consolidar cada vez mais”, disse.
Para Ivan Cruz, Presidente da Associação Brasileira de Milho e Sorgo, é necessária a busca constante de equilibro entre as cadeias de milho e sorgo com as que mais dependem dos grãos, como a avicultura e suinocultura. “Não podemos ficar alheios a esta realidade. Temos de ter a consciência de nosso papel como profissionais da agricultura. Estamos avançando muito, mas temos muito para crescer em termos de produtividade”, destacou.
Esta integração também foi destacada por Hamilton Ramos, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. “É preciso haver maior integração para entendermos melhor a demanda do mercado para realizar um planejamento estratégico para o segmento e sabermos onde precisamos investir mais, temos de ter claras nossas metas e objetivos”, afirmou.
Patentes da área de biotecnologia são tema de análise: o agronegócio vive um dilema no Brasil. Poucas empresas detêm o controle de patentes geradas através da biotecnologia. Como enfrentar este problema que pode gerar no futuro um paradoxo: o Brasil, um dos líderes na produção de vários produtos do agronegócio, assim como em exportação (milho, soja, complexo carnes, cana-de-açúcar), mas não possui as patentes para a produção base destes produtos?
Thomas Hoegemeyer, da Universidade de Nebraska, EUA, afirmou durante o evento que é extremamente necessária a participação do setor público no incentivo à pesquisa e no preparo de melhores profissionais para o setor. “Já enfrentamos problemas como este nos EUA e o incentivo das Parcerias Público-Privadas auxiliou na busca do equilíbrio. O Brasil deve pensar mais seriamente nesta questão”, destacou.
Para Sidney Parentoni, da Embrapa Milho e Sorgo, a situação é mais complexa do que foi antigamente. “Enquanto aqui os investimentos no setor público ‘patinam’, em países como a China, por exemplo, eles dispararam. Há um compromisso do Governo Federal em aumentar estes investimentos, mesmo porque, o Brasil é um dos países com a maior taxa de adoção de técnicas de transgenia”, destacou. “O licenciamento desta tecnologia impõe uma pressão competitiva e os produtores podem optar pelo melhor produto conforme sua demanda. O risco do fato de o mercado estar ‘nas mãos’ de poucas empresas internacionais é de ocorrer uma diminuição da base genética e os produtores ficarem subjugados à pressão dos preços que são ditados pela oferta”, explicou.
Antônio Fernandes Antoniali, da Semeali, afirmou que existe espaço para o desenvolvimento das empresas públicas. “E ainda acrescento a importância do papel dos Institutos de Pesquisa, que tem conhecimento, tem recurso e muitas vezes ficam reféns das questões políticas. Eles devem ser o ‘espelho’ do que é feito nas empresas privadas. Há uma concentração muito grande das pesquisas atualmente. É preciso ter transparência com as informações sobre as patentes de Organismos Geneticamente Modificados”, disse Antoniali.“É preciso avaliar os riscos desta concentração, seu impacto no agronegócio,  a internacionalização do mercado, o desaparecimento das empresas e dos institutos de pesquisas nacionais. Por isso se faz urgente maior união do setor ”, apontou Antoniali.
Novo paradigma para o mercado de milho: a estrutura e a importância do mercado e da produção de milho mudaram. Antigamente, a realidade era baseada na cultura de subsistência e em baixa tecnologia, além de sua produção ser totalmente voltada ao mercado interno.
A criação da Associação Brasileira das Indústrias do Milho (ABIMILHO-1977), da Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS-1986) e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO-2007), faz parte do processo de aperfeiçoamento do setor, e esta realidade começou a se alterar. Ao mesmo tempo, os produtores começaram a tomar consciência da importância e do potencial deste mercado para o agronegócio brasileiro.
De acordo com Luiz Antônio Pinazza, Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) durante o 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, atualmente os produtores contam com alta tecnologia para a produção de milho e este é um mercado que depende amplamente de políticas públicas e do mercado para exportação. “Contamos com muita informação para tornar a produção cada vez mais rentável, com práticas de manejo mais uniformes para produzirmos cada vez mais milho e com potencial nutritivo cada vez maior. Isto é fruto do profissionalismo dos produtores, da difusão e avaliação dos profissionais que prestam assistência técnica no campo”, afirmou.
Luiz Antônio Pinazza destacou ainda o fato de o milho fazer parte do “Top 4” da produção do agronegócio. “Ao lado do leite, do trigo e do arroz, o milho faz parte deste seleto grupo dos produtos extremamente importantes para o agronegócio. Ele está na base da pirâmide alimentar e integra uma longa cadeira produtiva, como a de aves e suínos, por exemplo, além de ser matéria-prima para centenas de outros produtos”, disse.
Pinazza ainda apontou importantes mudanças que estão ocorrendo no mundo. “A China tem aumentado o consumo de milho desde 2005, nos EUA, o milho está sendo usado para a produção de etanol e tem aumentado o consumo para esta finalidade desde 2004. Lá, o consumo do cereal, neste período, cresce cerca de 25% ao ano. Já no Brasil, temos um excedente de produção que pode ser utilizado para auxiliar a equilibrar o mercado externo. Este ajuste entre a demanda interna e produção de milho se faz através da exportação, mas não pode ser somente como matéria-prima, precisamos sim, cada vez mais, agregar valor ao nosso produto. Para isso, precisamos superar alguns desafios, como logística e a busca por novos mercados”, afirmou. Atualmente o Brasil é responsável por 7% da exportação mundial de milho.
Novo perfil do profissional para o Agronegócio: a agricultura brasileira evoluiu muito nos últimos anos, e esse crescimento se refletiu no número de contratações de mão de obra. No primeiro bimestre de 2012, o campo foi responsável pela maior contratação de trabalhadores com carteira assinada. Foram 21.446 mil, de acordo com o Ministério do Trabalho, gerando um saldo positivo de 9.867 mil vagas. Mas qual é o perfil atual deste trabalhador? Qual é a demanda gerada no campo e nas empresas que atuam no agronegócio?
Estes questionamentos foram levantados durante o evento. Segundo Isabela Colagrossi, da Kleffmann, o perfil demandado pelo mercado acompanha essa evolução do campo e traduz o novo agronegócio brasileiro. “Para atuar no agronegócio não basta entender de manejo e técnicas de produção. É preciso entender de negócios”, explicou Isabela. “A alta tecnologia empregada no campo exige que os profissionais tenham inclusive qualificações que anteriormente não eram necessárias”, explicou.
Pesquisa feita pela Kleffmann realizada nos meses de maio e junho de 2012 com 679 produtores de milho safrinha no Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo destaca a contratação de profissionais com curso superior voltado à administração de negócios. “A pesquisa mostra que há uma preocupação dos agricultores em profissionalizar cada vez mais a gestão de negócios. Do total de propriedades entrevistadas, 19% contrataram profissionais com curso superior, e desta parcela, 85% contrataram agrônomos e 23% administradores”, destacou Isabela Colagrossi.
Observa-se também um outro fenômeno: a grande procura nas faculdades pelos cursos de Agronomia, Engenharia Agrícola e Zootecnia. De acordo com Alessandro Guerra, Pesquisador da Universidade de Rio Verde, ainda há uma lacuna entre o que as faculdades oferecem e a demanda do mercado. “É preciso haver maior integração entre estes setores para a melhoria da formação deste profissional”, destacou Guerra durante o evento. “O conteúdo programático das Universidades é bastante regionalizado, conforme a produção da região”, disse.
Para João Cândido de Souza, da Universidade Federal de Lavras, é crescente a demanda por bons profissionais no mercado, ao passo que cresce o número populacional no mundo. “Alguém tem de produzir o alimento. Qual é o impacto do aumento do número de pessoas no mundo para o agronegócio?”, questionou. “Vamos ter de formar mais e melhores profissionais voltados ao setor do agronegócio”, disse Souza.
Sorgo: uma nova realidade para a produção de etanol? Estima-se que o mercado mundial de biocombustíveis atingirá o volume de negócios ao redor de US$ 280 bilhões em 2022 e demandará uma área de 160 milhões de hectares até 2050 para suprir o fornecimento de matéria-prima. O Brasil se destaca como o foco dos investimentos, considerando aspectos favoráveis de solo e clima. Na região Centro-Sul do Brasil estimam-se cerca de 8,7 milhões de hectares cultivados com cana-de-açúcar, dos quais  5,4 milhões estão presentes em São Paulo, onde a área aumentou 54,6% nos últimos quatro anos. Embora expressiva, esta área não tem sido suficiente para suprir o crescente mercado de etanol, aquecido pelo acréscimo anual de 2,5 milhões de novos veículos flexfuel.
A produção de sorgo para a produção de etanol foi analisada durante o 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo. Dados apontam que para suprir a necessidade de 56 bilhões de litros de etanol no país em 2015 será necessária a construção de pelo menos 113 novas usinas. De acordo com Rogério Freitas, Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA- Regional) e membro do Programa Milho e Sorgo do Instituto Agronômico (IAC), o sorgo sacarino inicialmente é recomendado para o cultivo em áreas de reforma de canaviais, visando oferecer matéria-prima para a produção de etanol na entressafra da cana-de-açúcar, com a vantagem de utilizar a mesma estrutura de colheita, de moagem e processamento da cana em destilarias de etanol. As culturas do sorgo sacarino (com alto teor de açúcar na parte aérea da planta) e da cana-de-açúcar não competem em área, pelo contrário, são complementares. O sorgo é semeado no período de renovação do canavial, período que a terra ficava ociosa ou era utilizada para produzir grãos ou adubos verdes, com menor retorno econômico. “Atualmente, pode-se produzir 60 litros de etanol por tonelada de biomassa”, afirmou o pesquisador.

De acordo com Denizart Bolonhezi,Pesquisador Científico da Apta, em comparação com outras culturas (milho, beterrraba, mandioca) o sorgo sacarino é uma boa alternativa para complementar a produção de etanol da cana-de-açúcar. “A reforma do canavial decide o ‘negócio’ da cana-de-açúcar.  O aumento da produtividade da cana é crucial para o mercado de etanol e o sorgo entra neste contexto como uma alternativa viável”, destacou. “Precisamos superar ainda muitos desafios neste sentido, como por exemplo, do ponto de vista científico, ainda não temos dados conclusivos sobre o impacto do plantio do sorgo sobre a produtividade da cana. Ainda não é possível comparar os dados que obtivemos com os do plantio de leguminosas, como a soja, mais comum para esta finalidade”, destacou. “Temos uma curva de aprendizado sobre o sorgo, estamos no início dos estudos, mas já identificamos uma excelente oportunidade, assim como os investidores também, que já ‘compraram esta ideia’. Por isso, a conjuntura é amplamente favorável”, destacou. “Nossos desafios com a utilização do sorgo vão desde análises sobre o plantio da cana-de-açúcar, sua baixa densidade, um genótipo tardio e o Período Útil de Industrialização (PUI) muito longo”, explicou.
René Sordi, do Grupo São Martinho, destacou durante o evento que a produtividade do sorgo ainda está aquém do desejado. “Precisamos aumentar o número de plantas por área, adotar uma transgenia para o controle da broca e desenvolver variedades/híbridos para limitar o florescimento e isoporização”, disse.
Crescimento do mercado de milho orgânico: as pesquisas têm evidenciado os impactos negativos gerados pela adoção de tecnologias e práticas agrícolas inapropriadas, principalmente em áreas de clima tropical. A degradação dos solos brasileiros, por exemplo, seguiu padrões históricos semelhantes em diversas regiões.
Inicialmente, as florestas foram substituídas por lavouras, rompendo a ciclagem de nutrientes do ecossistema natural; em algumas décadas, a fertilidade do solo reduziu drasticamente, agravada pelo processo erosivo, e mais recentemente, o uso exacerbado de adubos sintéticos altamente solúveis e agrotóxicos contribui para o aumento da contaminação de água e dos alimentos.
De acordo com Anástácia Fontanetti, Professora da Universidade Federal de São Carlos, não se pode ignorar a necessidade de aliviar a degradação e pressão sobre os recursos naturais, se não pela tomada de consciência dos produtores, mas ao menos para atender as exigências do mercado. “Consumidores estão cada vez mais exigindo alimentos sadios, cuja produção não tenha posto em risco o ambiente e a saúde do trabalhador rural. Além disso, a sociedade deve valorizar e recompensar de forma adequada os produtores que manejem responsavelmente o ambiente e os recursos naturais como forma de compensação e incentivo pela conservação”, afirmou a Pesquisadora.
Neste contexto, os produtos gerados através do sistema orgânico de produção estão ganhando destaque no cenário mundial. Segundo Anastácia Fontanetti, a legislação brasileira considera sistema orgânico todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica  e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável. De acordo com a Organics Brasil, que reúne 72 empresas exportadoras de produtos processados, o mercado brasileiro cresceu 40% ao ano em 2010.  No Brasil, as normas de produção, certificação e comercialização dos produtos orgânicos começaram a ser regulamentadas por meio da Instrução Normativa nº 7, de 17 de Maio de 1.999. Em 2001, foram criados os Colegiados Estaduais e o Colegiado Nacional de Produção Orgânica, além da Câmara Setorial da Agricultura Orgânica, no Ministério da Agricultura.
Sobre a produção de milho orgânico, a Pesquisadora destacou a importância da produção para as cadeias e aves e suínos. “Cerca de 70% a 80% da produção de milho no Brasil são destinados à avicultura e suinocultura. “No Censo de 2006, verificou-se que em 41,7% das propriedades orgânicas brasileiras, a atividade econômica predominante foi a pecuária. Este fato ressalta a necessidade da produção de milho em sistema orgânico, uma vez que esse cereal constitui boa parte das rações utilizadas”, afirmou. A Instrução Normativa Nº 46 estabelece que no sistema de produção orgânico-animal a alimentação deve ser oriunda da própria unidade de produção ou de outro sistema sob manejo orgânico. “Devido à baixa oferta e ao elevado preço dos componentes, o quilo da ração  orgânica é aproximadamente 70% mais caro que o da ração convencional”, disse Anastácia Fontanetti. A chave para baratear este custo é o aumento da produtividade do milho orgânico. “Em 14 anos de produção, somente utilizando compostos orgânicos, temos atingido 5,5 hectares de produtividade. É notório o aumento das pesquisas e do desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao sistema orgânico. A maior dificuldade é obter genótipos de milho não transgênico e ainda produzir o milho orgânico devido a necessidade do seu isolamento em relação às lavouras de milho transgênico, já que as próprias normas de coexistência estabelecidas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)  não estão sendo obedecidas”, destacou.
Eduardo Prochnou, Engenheiro Agrônomo da Korin, empresa especializada na produção e  venda de produtos orgânicos, destacou o crescimento deste mercado. “Estamos atuando em grandes redes de supermercados e abrindo áreas também para franquias. Infelizmente, temos a dificuldade da pouca oferta do milho orgânico e do alto custo para manter a produção de frango”, disse. “Em nosso centro de pesquisa, Mokiti Okada, desenvolvemos um grande trabalho neste sentido e vamos buscar cada vez mais o desenvolvimento deste mercado que tem um grande potencial econômico”, destacou.
Agregação de renda com milho convencional no Mato Grosso: O estado do Mato Grosso vem se consolidando como o maior produtor de grãos do Brasil. Na Safra 2008/09 e na atual (2011-12) o estado ultrapassa o Paraná em volume e em produtividade. A liderança não deverá mais ser revertida, uma vez que, ano a ano, é ampliada a área plantada, avançando sobre as pastagens degradadas.
Segundo José Henrique Hasse, da Cerealpar, há aumentos sucessivos da produtividade, com aplicação de tecnologia, conhecimento e boas práticas de manejo. “Plantamos e colhemos duas safras, ampliando o portfólio de produção. Segundo ele, o estado desponta na produção de nichos de mercado. “Verificamos com maior frequência, empresas se instalando no estado em busca da capacidade de produção direcionada que o Mato Grosso possui”, destacou. “Atualmente, a segunda safra representa importante aporte financeiro ao produtor. A receita do cultivo de segunda safra impulsiona o comércio local, proporciona melhor fluxo de caixa ao produtor, diminui a ociosidade das máquinas e dos equipamentos e mantém o empregado no campo”, destacou.
Segundo ele, são observados os benefícios financeiros desses cultivos para a segunda safra, quando a produção de diferenciais vem acompanhada de melhoria de renda para o produtor. “Se o incremento for de US$ 20,00 por tonelada de prêmio, o resultado seria de R$ 2,50 a saca acima de seu preço de mercado, o que daria um retorno de 70% do investimento da safra”, explicou.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: o Brasil é um dos países que mais tem aumentado sua produção do agronegócio, porém, até que ponto este crescimento tem sido favorável ao meio-ambiente e quais são as projeções, visando um maior desenvolvimento de um dos segmentos econômicos mais importantes e estratégicos para o Brasil?
A integração entre lavoura, pecuária e floresta (iLPF) tem sido uma das táticas adotadas para garantir o crescimento sustentável no campo.
Segundo explicou Sérgio Alves, do Instituto Agronômico do Paraná, além da melhoria da fertilidade dos solos e diminuição de pragas e doenças, a Integração Lavoura-Pecuária tem como vantagens:
– A possibilidade de utilização de pastagens de elevado potencial produtivo e qualidade;
– Conservação do meio ambiente e melhoria no uso dos recursos naturais disponíveis;
– O uso dos produtos agrícolas no arraçoamento ou aproveitamento de resíduos agrícolas para a alimentação animal;
– Aumento da produtividade agrícola;
– Produção de carne e leite de alta qualidade e de forma competitiva;
– Racionalização no emprego da mão-de-obra e maior eficiência do uso de adubos, máquinas e implementos;
– Aumento de rentabilidade;
– Diminuição de riscos.
Alves explica que um sistema intensivo de Integração Lavoura-Pecuária é mais complexo e requer maior preparo de produtores e técnicos em nível de conhecimento. “Ganhamos mais dinheiro, produzimos em uma terra mais fértil e ainda lucramos com o gado. Quando este sistema é aplicado corretamente, é lucrativo ao produtor”, destacou.
Maria Celuta Machado Viana, da Epamig, afirmou que há grande possibilidade de adoção do sistema integrado em diversas regiões. “O sistema é de fácil adaptação, podendo ser regionalizado. A busca de alternativas de produção agropecuária econômica, ecológica e socialmente sustentável, fundamentada em tecnologias não agressivas ao meio ambiente, tem apontado o desenvolvimento de sistemas integrados como alternativa mais adequada de exploração agropecuária, uma vez que combina árvores, culturas e animais em um conceito de imitação dos ecossistemas naturais”, explicou.
Segundo ela, resultados de pesquisa com o milho têm demonstrado a viabilidade técnica e econômica da utilização desta cultura nos consórcios com o eucalipto e espécies do gênero Panicum ou Urochloa em várias regiões brasileiras. “No entanto, vale ressaltar que a utilização do milho no sistema de iLPF é transitória, uma vez que, à partir do segundo ano, o sombreamento do componente florestal interfere nas produtividades do milho”, destacou.