A três meses do início da colheita da supersafra de soja, o porto de Paranaguá e as concessionárias de rodovias que operam os canais de ligação até o litoral do estado estão fazendo ajustes para atenuar o colapso logístico previsto para o escoamento da produção. Com o incremento das exportações brasileiras da oleaginosa, os setores do agronegócio projetam um cenário ainda mais complicado em relação a temporada passada, quando congestionamentos de caminhões nas estradas e filas de navios a espera para atracar no terminal paranaense foram constantes.
Apesar dos esforços, poucos investimentos foram realizados para aumentar a infraestrutura de transporte ou carregamento. Além disso, algumas obras não serão concluídas até janeiro, quando começa o escoamento da safra.
“Será um caos. O agronegócio não quer esmola, quer estrada e porto. Somos eficientes e temos mercado. Só precisamos de infraestrutura”, aponta Luiz Antonio Fayet, consultor logístico e conselheiro do Porto de Paranaguá.
Ainda de acordo com o especialista, a falta de estrutura também contribui para limitar a safra de grãos, já que alguns produtores não ampliam a área de plantio por conta das dificuldades no transporte. “Deixamos de produzir cerca de três milhões de toneladas de soja na safra passada porque os agricultores não tinham como retirar o produto da propriedade. Isso vai se repetir nesta temporada”, complementa.
A supersafra deve ultrapasse 81 milhões de toneladas de soja, segundo estimativa preliminar da Expedição Safra Gazeta do Povo. Com a quebra da safra norte-americana, o Brasil deve exportar 39 milhões de toneladas de oleaginosa, 25% a mais em relação a temporada passada (31,2 milhões de toneladas), e se transformar no principal fornecedor do mundo.
Ajustes
O Porto de Paranaguá, uma das principais portas de saída da soja brasileira, afirma ter realizado alguns ajustes operacionais na tentativa de melhora os índices de produtividade para atender as necessidades do campo. A partir desta safra, a administração do porto, a Appa, passa a monitorar os embarques em tempo real, possibilitando intervenção em caso de baixa. O sistema de agendamento e a programação eletrônica de navios e caminhões receberão novas funcionalidades na busca por ganhos operacionais.
Porém, medidas como a ampliação do pátio de triagem e repotenciamento das correias e shiploaders, solicitação antiga do setor agrícola, não serão concluídas até o início do escoamento.
“Não estarão disponíveis para a safra 2012/13. Seria prejudicial fazer alguma intervenção no meio do período de escoamento, pois iria reduzir a capacidade operacional no principal momento da safra”, explica Luiz Henrique Tessutti Dividino, superintendente da Appa.
O colapso no estado não será maior se o terminal paranaense continuar perdendo carga para o Porto de Santos, como acontece atualmente. Enquanto a autarquia paulista exportou 10,3 milhões de toneladas de soja de janeiro a setembro, 32% mais em relação ao mesmo período do ano passado, Paranaguá registrou 6% de crescimento, ou somente 400 mil toneladas a mais.
Concessionárias reforçam equipes durante a safra
As concessionárias das rodovias que ligam as principais regiões produtores do Paraná e os estados do Centro-Oeste ao Porto de Paranaguá estão mobilizadas para reduzir os impactos do escoamento da supersafra. Ciente do aumento no fluxo de caminhões e do risco iminente de filas nos acostamentos, as empresas irão reforçar as operações nas estradas durante os meses de transporte da produção.
A CCR Rodonorte, responsável pelo trecho Apucarana-Curitiba, irá incrementar em 30% o número de veículos operacionais, como guinchos. A empresa estima 6% de crescimento no tráfego de soja este ano. “Nosso negócio é muito relacionado ao agro. Vamos montar um esquema especial”, afirma o gestor de atendimento da empresa, Elvio Torres. Segundo a empresa, 56% da soja que passa pelo trecho têm origem no Paraná, enquanto 26% veem do Mato Grosso, 6% do Mato Grosso do Sul e o restante, 12%, dos outros estados e dos países do Mercosul.
No trecho entre Curitiba e o litoral, administrado pela Ecovia, a principal preocupação é com o congestionamento de caminhões no acostamento. De acordo com o gerente de atendimento da concessionária, Marcelo Belão, além dos riscos aos outros usuários, a fila envolve outras questões como o roubo de carga e prostituição. “Sabemos do aumento da demanta e estamos preparados operacionalmente. Vamos reforçar a equipe na época da safra para orientar os caminhoneiros”, explica.
Na safra passada, entre março e setembro deste ano, a empresa registrou nove dias de fila de caminhões às margens da BR 277.