O óleo de soja não foi convidado para a festa da alta de preços internacionais que animou ainda mais os mercados do grão e do farelo nos últimos meses, depois da inesperada combinação entre a seca que atingiu a América do Sul na safra 2011/12 e a que castigou os EUA neste ciclo 2012/13.
Apesar de a oferta mundial do produto ter diminuído com as estiagens que prejudicaram a colheita da matéria-prima, o balanço mais confortável no mercado de óleos vegetais segurou as cotações do derivado da soja.
Conforme cálculos do Valor Data baseados em contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), o grão acumula valorização de 23,85% em 2012. A alta do farelo chega a 46,66%, mas o óleo amarga uma retração de 6,26% no período.
Enquanto o farelo compete com 12 produtos com aplicações semelhantes, entre os quais o farelo de canola, o óleo tem 17 rivais. Assim, enquanto a participação do farelo de soja na produção global de farelos alcançou 61,4% na safra 2011/12, a do óleo de soja no tabuleiro dos óleos vegetais foi de 22,8%, segundo a publicação especializada alemã “Oil World”.
“A concorrência nos óleos é bem mais acirrada. A soja tem um teor de proteína superior à maioria dos farelos e a dependência desse derivado em nível mundial é muito maior”, afirma Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Além disso, a estiagem que golpeou as lavouras americanas do grão prejudicou ainda mais o milho, o que provocou a redução da produção de etanol no país e, por consequência, tornou mais escasso o volume disponível de DDG – subproduto do processo de produção do biocombustível comumente usado em rações de bovinos, suínos e aves.
“Os criadores tiveram que buscar outras alternativas e o farelo de soja acabou mais demandado”, afirma Stefan Tomkiw, vice-presidente da mesa de derivativos para América Latina do Jefferies Bache, em Nova York.
Fator adicional de pressão foram os ventos mais do que favoráveis para importantes competidores do óleo de soja, sobretudo o derivado de palma. Amplamente cultivado em países como Malásia e Indonésia, o vegetal foi beneficiado pelo clima e por melhorias no manejo. Resultado: oferta farta e preços em baixa. Desde janeiro, o óleo de palma caiu 25% na bolsa de Kuala Lumpur (Malásia), referência global de preços do produto.
Conforme a “Oil World”, as exportações globais do óleo de palma alcançarão 42,6 milhões de toneladas este ano, maior nível em pelo menos cinco anos. Para se ter uma ideia, as vendas combinadas dos óleos de soja, canola e girassol tendem a recuar 5,8% em relação ao ano passado, para 19,14 milhões de toneladas.
Historicamente, o Brasil exporta, em média, 40% do que produz de óleo de soja. A maior parte fica no mercado interno, em larga medida porque tanto o óleo quando o farelo têm maior tributação na exportação do que o grão (por isso, a matéria-prima é exportada e acaba industrializada principalmente na China).
Com o aperto na oferta da commodity após a quebra da safra 2011/12, o Brasil vai esmagar ainda menos, o que inclusive levou algumas indústrias a interromperem as atividades mais cedo que de costume. Muitas entraram em manutenção em setembro e outubro, quando o normalmente as paradas costumam ocorrer entre os meses de novembro e dezembro.
Diante desse cenário, a Abiove reduziu em outubro sua expectativa de processamento no país na safra 2011/12 de 35,3 milhões para 35,1 milhões de toneladas, o que motivou pequenos ajustes para baixo nas estimativas para a produção de farelo e óleo – para 26,7 milhões e 6,75 milhões de toneladas, respectivamente. Esse enxugamento da oferta doméstica de óleo ajudou o produto a andar na contramão internacional e subir no Brasil.
Projeções da Tendências Consultoria apontam que os preços médios do óleo de soja pago ao produtor no país registrarão alta de 6% neste ano na comparação com 2011. Somente em outubro, a elevação chegou a 23% em relação ao mesmo mês do ano passado. “Não há disponibilidade do produto. As exportações ganharam um pouco de força em meados deste ano e isso não estava no cenário de ninguém”, afirma Amaryllis Romano, da Tendências.
Para 2013, a consultoria prevê nova alta, de quase 20%, em função de uma esperada recuperação na atividade econômica no Brasil – esse aquecimento pressupõe maior uso de combustíveis e o biodiesel tem o óleo de soja como principal matéria-prima no país. “Demanda é o que não falta”, afirma Amaryllis.
A expectativa é que a safra 2012/13, em fase de plantio no Hemisfério Sul, seja a primeira dos últimos 20 anos em que a produção global de óleos não crescerá. A “Oil World” prevê que o consumo dos oito principais óleos somará 153,86 milhões de toneladas na temporada, ante 153,05 milhões em 2011/12.
Mas, quanto aos preços internacionais, parece não haver refresco a caminho. A Jefferies Bache projeta uma queda nas cotações em Chicago, por causa de aumento dos estoques e da demanda mais voltada ao óleo de palma, mais barato.
“O esmagamento está acelerando nos EUA e a demanda está relativamente forte somente para o farelo. Assim, a tendência é que o farelo vá embora e o óleo fique para aumentar o estoque”, diz Tomkiw.