Maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto, a Fibria vai ampliar seus investimentos em 2013 para até R$ 1,25 bilhão ante R$ 1,15 bilhão em 2012 (considerando-se a aquisição de 6% no capital da americana Ensyn), mas manterá o foco na gestão do endividamento e na reconquista da classificação “grau de investimento”, de acordo com o presidente da companhia, Marcelo Castelli.
O orçamento, disse o executivo ao Valor, não contempla uma decisão, já no próximo ano, sobre a implantação da segunda linha na fábrica de Três Lagoas (MS), que originalmente entraria em operação em outubro de 2014.
“Hoje, nosso foco é reduzir o custo da dívida e recuperar o grau de investimento”, disse Castelli. O maior investimento, explicou, deve-se à destinação de mais recursos para as florestas de Aracruz, com vistas a aumentar a produtividade destes ativos. “Nosso plano base não considera uma decisão sobre o projeto Horizonte 2 no ano que vem”, reiterou. A expansão da fábrica sul-mato-grossense segue nos planos da companhia, que já firmou contratos de compra de madeira para entrega futura e de arrendamento de terra. Contudo, o projeto somente será levado ao conselho de administração quando as condições de mercado forem mais favoráveis.
Uma das variáveis consideradas pela Fibria na decisão é o volume adicional de celulose que chegará ao mercado nos próximos meses e que vai pressionar as cotações da matéria-prima. Neste mês, entrou em operação a primeira unidade fabril da Eldorado Celulose e Papel, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas anuais. Em um ano, a nova fábrica da Suzano Papel e Celulose, no Maranhão e com capacidade idêntica à da Eldorado, começará a produzir. E pouco antes, a da Stora Enso e da Arauco em Montes del Plata, no Uruguai, já terá entrado em operação.
Para Castelli, por causa disso, os próximos três anos serão desafiadores para a indústria, com destaque para 2014. “Serão três anos difíceis, que merecem ser acompanhados”, afirmou. No segundo semestre, os preços da celulose mostraram uma leve reação a partir de outubro, após o anúncio de aumento de US$ 30 por tonelada para a cotação da matéria-prima vendida na Europa. Com o reajuste, o preço de referência naquele mercado foi a US$ 780 por tonelada, porém pesquisas de preços realizadas por consultorias independentes mostram que o aumento não foi integralmente implementado.
A expectativa, de acordo com Henri Philippe Van Keer, diretor comercial da Fibria, é a de que o cenário mais favorável aos negócios com celulose perdure até o primeiro trimestre do próximo ano. Após esse período, a oferta adicional da matéria-prima e condições de mercado papeleiro menos positivo na China e na Europa pesarão sobre os preços. “O preço médio no ano deve ficar US$ 10 por tonelada mais baixo do que a média de 2012”, afirmou o executivo. “Mas essa é uma projeção conservadora, porque China e Estados Unidos podem trazer uma dinâmica melhor ao mercado no próximo ano”, ponderou.
Esse cenário de “estresse” desenhado para a indústria nos próximos três anos, na avaliação de Castelli, poderá servir de gatilho para uma nova rodada de consolidação entre os produtores de celulose – a própria Fibria nasceu da fusão entre Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz, em um momento crítico para a última companhia em razão de perdas bilionárias com derivativos cambiais. “Haverá um cenário de stress que vai acelerar decisões que já deveriam ter sido tomadas”, analisou, sem entrar em detalhes sobre as possíveis combinações no setor.
Sob o aspecto gestão da dívida, uma das medidas que podem ser anunciadas pela companhia nos próximos meses, é a recompra de bônus com vencimentos em 2020 e 2021. Segundo Guilherme Cavalcanti, diretor de finanças e relações com investidores da Fibria, essas são dívidas caras e a empresa poderá usar os recursos provenientes da venda do projeto Losango, com cerca de cem mil hectares no Rio Grande do Sul, à chilena CMPC, por R$ 615 milhões.
Ainda neste ano, a Fibria deve receber uma parcela de R$ 480 milhões referente ao negócio, porém não haverá tempo hábil para a abertura da recompra de bônus – com vencimentos em 2020 e 2021, as operações totalizam US$ 1,2 bilhão e US$ 750 milhões.
Uma das consequências esperadas pela companhia a partir dessas iniciativas é a conquista da nota “grau de investimento”, que, no passado, foram concedidas pelas agências de classificação de risco tanto à Aracruz quanto à VCP. Na avaliação da empresa, é mais provável, porém, que essa classificação seja concedida em 2014.
A direção da Fibria participa hoje de encontro com analistas na Bolsa de Nova York, como parte do II Fibria Day.