Ao final do mês de outubro, no 8º Agrimark Brasil, promovido pelo Instituto Universal de Marketing em Agribusiness – I-UMA -, perguntei ao palestrante Gilberto Piccinini, presidente da Cosuel, cooperativa que atua em uma região de pequenos agricultores e que não é autossuficiente na produção de milho pela expressão de suas indústrias nas áreas de avicultura, suinocultura e produtos lácteos, qual era a solução para, em um ano atípico como o corrente, garantir aos associados o fornecimento do mencionado grão.
Ele respondeu que procura garantir o suprimento da demanda com compras feitas antecipadamente das regiões que têm excedentes, principalmente Paraná e Centro-Oeste. Com isto, os demandantes são penalizados com o preço alto, mas não há desabastecimento. É a postura previdente de quem não compra “da mão para a boca”.
Na Avisulat, em Bento Gonçalves-RS, ocorrida na semana passada, ouvi cobranças a respeito da falta de abastecimento de milho, principalmente para avicultura e suinocultura.
Como o evento era organizado por entidades do Rio Grande do Sul, obviamente as análises se referiam principalmente ao referido estado.
Alguns defendiam proibição das exportações de milho.
O consultor Carlos Cogo, detentor de grande conhecimento dos mercados e das políticas públicas, pois já militou em órgãos governamentais, demonstrou que a falta de milho em algumas regiões produtoras de proteínas animais não conflita com as exportações. Algumas áreas do país têm sobras vultosas.
Afirmou ele, categoricamente, que o problema é de logística e que, nas circunstâncias atuais, o Brasil tem necessidade de exportar milho.
Ouso afirmar que a causa é também a insensibilidade das chamadas áreas econômicas do governo, que dificultam ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA – a adoção de políticas que permitam a formação de expressivos estoques públicos para serem tempestivamente movimentados, garantindo o abastecimento, inclusive com práticas que garantam ao pequeno produtor adquirir o grão por preços que não inviabilizem seus custos na produção de animais e seus derivados.
Pleitear, sem profundo conhecimento de causa, a suspensão de exportações é um equívoco, resultante do não aprofundamento da análise setorial e da falta de diálogo, entre os diversos elos da cadeia produtiva e representantes de áreas geográficas do Brasil.
Em termos percentuais, a exportação de milho é bem inferior à de frango.
No momento em que o país passar à adoção de políticas idênticas às de Cristina Kirchner terá sua imagem argentinizada. O comprador internacional de proteínas animais ficará com um pé atrás relativamente aos reflexos da proibição governamental da saída de grãos. A possibilidade de políticas intervencionistas gerará queda de credibilidade nos mercados externos.
De outra parte, conforme afirmou categoricamente o consultor Carlos Cogo, em sua brilhante palestra na Avisulat, não há falta de milho no território brasileiro.
O desabastecimento não é decorrência das exportações e sim da falta de diálogo organizado com o poder público; da pressão apenas no Ministério da Agricultura, quando o problema está em outras áreas governamentais; da ausência de interação entre os elos da cadeia produtiva e da clareza nas reivindicações.
A política de compra “da mão para a boca” é eficaz quando os preços do grão estão baixos. Fora disto, é preciso organizar as compras em regiões carentes, como faz a Cosuel.
É verdade que ao poder público incumbe adotar práticas resultantes de planejamento e existência de normas institucionais que permitam movimentação de safras em território nacional.
Se no corrente ano o Brasil teve 10 milhões de toneladas de estoque de passagem, produziu 72 milhões e o consumo interno foi de 50 milhões, o desabastecimento em algumas áreas não resultou das exportações, embora o volume das mesmas tenha duplicado, comparando-se com 2011.
Quem sabe um dia os representantes dos elos da cadeia produtiva do milho, aí incluindo as áreas consumidoras, sintam que precisam dialogar entre si e com o governo, organizadamente, não apenas em reuniões periódicas e rápidas de câmaras setoriais, mas institucionalizando formas ensejadoras de diálogos constantes e apresentação de propostas sérias e claras.
Embora já tenhamos muitas entidades, a organização para reivindicar é imprescindível.
Por que não pensar em um “instituto” ou algo do gênero, não para acertar preços – pois isto o CADE proibiria – mas visando a discutir normas institucionais e aprovar práticas mercadológicas.
Se ficarmos em um mero pleito circunstancial, poderemos, a pretexto de impedir exportações, nos transformar em importadores de práticas “Kirchnerianas”.
Por Odacir Klein, advogado e profissional da área contábil. É sócio da Klein & Associados e coordenador do Fórum Nacional do Milho.
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