O programa “Águas Brasil”, lançado há dois anos por meio de uma parceria entre órgãos federais e ambientalistas, formaliza hoje, no interior de São Paulo, sua primeira iniciativa para assegurar a qualidade do recurso natural no segmento de cana-de-açúcar.
O alvo do projeto é a Zilor, usina sediada em Lençóis Paulista, onde serão realizados por cinco anos trabalhos de recuperação florestal de matas ciliares e capacitação de produtores vinculados à empresa.
Por trás do “Águas Brasil” está a expertise de quem acompanha de perto o setor rural brasileiro e seus impactos – o Banco do Brasil, maior financiador do campo, Instituto Banco do Brasil, Agência Nacional de Águas (ANA) e WWF-Brasil. O conjunto desses esforços tentará produzir em pequena escala modelos de restauração capazes de serem replicados em áreas maiores e aliviar a pressão gerada pela atividade agrícola sobre recursos hídricos.
A decisão de começar o projeto com a Zilor deve-se ao fato de ser uma empresa com um histórico de medidas socioambientais que culminaram com a certificação Bonsucro, voltada à cana. Diferentemente de outras usinas, a Zilor trabalha com parcerias agrícolas onde toda a produção é terceirizada: 28 produtores plantam a cana que será entregue para moagem nas duas usinas que a companhia que tem na região.
“No nosso caso não existe a opção de trocar de fornecedor se ele deixar de cumprir nossos compromissos de conduta”, afirma Cristiano Ramos de Souza, diretor de Gestão de Pessoas e Socioempresarial da Zilor. “A responsabilidade na cadeia produtiva é ainda maior”.
Nessa primeira etapa, o projeto trabalhará com quatro unidades demonstrativas nessas áreas de plantio, que variam de 0,25 a 2 hectares, totalizando 12 hectares. A escolha dessas áreas teve como base as peculiaridades de cada uma – áreas alagadas, áreas com restaurações que não deram certo, áreas de transição entre Cerrado e Mata Atlântica, por exemplo, de modo a abranger realidades diferentes.
Segundo agrônomos, o padrão consolidado de replantio florestal – o “3 por 2”, que prevê uma linha de árvores com espaçamento de dois metros entre elas, e três metros separando cada linha – é um método ainda caro. A restauração de um hectare pode chegar a R$ 10 mil. Por isso, os técnicos do WWF ficarão responsáveis por testar novas metodologias em restauração.
A capacitação dos produtores é outro pilar do projeto, já que muitos ainda cometem erros por falta de conhecimento. Um deles é optar por mudas de árvores que não são da Mata Atlântica, bioma onde fica Lençóis Paulistas. Além de não cumprirem as funções ecológicas, as árvores exóticas não são consideradas na averiguação de conformidade com o que pede a lei.
“Produção e conservação não são antagônicos”, diz Samuel Barreto, do WWF-Brasil. “A água é um capital natural, e perder água e solo coloca o negócio em risco”. A próxima parceria será feita com a cadeia da soja em Mato Grosso, adianta Barreto.
O “Águas Brasil” trabalha com 14 microbacias nos cinco biomas brasileiros e se apoia em segurança hídrica, segurança alimentar e no agronegócio. Com prazo de cinco anos, prorrogável, tem orçamento de R$ 57 milhões. Desde seu lançamento, em 2010, R$ 11 milhões foram desembolsados, segundo Wagner de Siqueira Pinto, gerente-executivo de Desenvolvimento Social do BB.