Na safra agrícola 2009/2010 a ocorrência de uma anomalia nas plantas de soja, de causa ainda desconhecida, prejudicou a produtividade de várias lavouras na região médio-norte de Mato Grosso: a soja louca II. Essa anomalia causa, principalmente, o abortamento dos botões florais das plantas e a formação de vagens deformadas e que não amadurecem, atrapalhando o processo de colheita das lavouras atacadas.
Várias hipóteses já foram levantadas para explicar o fenômeno e estudos estão em andamento para se chegar a uma definição. Segundo especialistas, as possíveis causas do fenômeno podem estar relacionadas ao ataque do ácaro preto nas plantas de soja, ao desequilíbrio fisiológico das plantas em função de um estresse climático, ou a uma alelopatia causada por uma planta daninha específica ou ainda a outro fator ainda não conhecido.
A Fundação MT, como instituição de pesquisa acompanha a safra em andamento e já identificou a presença dos sintomas da soja louca II em algumas lavouras da região médio-norte do Estado. Uma equipe de pesquisadores está monitorando o aparecimento de novos focos e estudando o ambiente de produção com o objetivo de levantar detalhes que possam indicar a causa dessa anomalia.
A doutora Lúcia Vivan, o doutor Eros Francisco e o engenheiro agrônomo Jair Magri, pesquisadores da Fundação MT, estiveram em Sorriso e identificaram plantas de soja apresentando sinais da anomalia soja louca II. Foram feitas coletas e encaminhadas para análise laboratorial. As lavouras identificadas estão sob monitoramento constante. Foram identificadas áreas de produção com a presença de ácaros na palhada e nas plantas de soja e as amostras foram encaminhadas ao acarologista do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA), doutor Anibal Ramadan Oliveira. Ele identificou três espécies de ácaro presentes: Zygoribatula translineata Mahunka, Scleloribates praeincisus e Galumna sp. Segundo o especialista, após análise laboratorial, disse que os ácaros presentes nas amostras não estavam se alimentando das plantas de soja.
Algumas observações de campo também foram realizadas nessa visita e podem ajudar no entendimento do problema. A equipe identificou plantas de soja louca II em locais de baixada (terreno encharcado), mas também em pontos altos do relevo. Eles também visualizaram-se plantas de soja louca II sem a presença dos ácaros, bem como plantas de soja normais com a presença dos ácaros; e observaram-se plantas de soja louca II em áreas com diferentes resíduos de cobertura. Dessa maneira, o monitoramento constante das lavouras e a interação com o histórico das áreas pode ser uma peça chave para desvendar esse quebra-cabeça que se apresenta na agricultura mato-grossense.
A Fundação MT reconhece a importância da ocorrência dessa anomalia para a sojicultura do Mato Grosso e, por isso, põe-se a trabalhar determinadamente nessa causa. Contudo, ainda não se têm subsídios para a recomendação de uma ação específica de controle ou manejo. A solução de mais este problema não será fácil, pela sua complexidade de fatores, demandará calma e estudos específicos, mas será alcançada assim como outros desafios também foram.