Depois de subir em disparada na semana anterior, os futuros da soja e do milho recuaram nesta quarta-feira, pressionados por um movimento de realização de lucros. A oleaginosa encerrou os negócios com preços mistos (negativos para os três primeiros contratos e positivos para os demais). Com leve queda de 1,6 ponto, o contrato março/11 (primeiro vencimento) fechou cotado a US$ 14,11 o bushel (27,2 quilos), ou US$ 31,14 a saca de 60 quilos. Já o cereal registrou queda generalizada em todos os contratos. Com desvalorização de 18,2 pontos, o milho com vencimento em março/11 terminou a sessão valendo US$ 6,41 o bushel (25,4 quilos), ou US$ 15,15 a saca. Apesar da baixa de ontem, os dois grãos ainda sustentam os maiores preços em dois anos e meio na Bolsa de Chicago.
A principal bússula do mercado foi a Argentina. Sem novidades fundamentais, as projeções climáticas indicando chuvas para as regiões produtoras do país vizinho nos próximos dias incentivaram a correção dos preços. Após digerir o cenário de oferta restrita desenhado pelo USDA – o departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em seu relatório de oferta e demanda de janeiro -, o mercado fez uma breve pausa para tomada de fôlego nesta semana.
A tendência para as próximas semanas, contudo, continua sendo positiva, afirmam analistas. O desafio é “comprar” hectares adicionais para a soja e para o milho nos EUA no próximo ciclo. “Há uma preocupação muito grande com o abastecimento aqui na Europa. Após uma grande quebra na última safra de verão, o mercado já sente a diminuição da oferta. Será necessário racionar o consumo, e isso só é possível através do aumento de preços. Ao menos nos primeiros meses do ano, o mercado deve manter a tendência altista”, avalia Steve Cachia, analista da Cerealpar em Malta.
Ele observa, entretanto, que a escalada recente das cotações internacionais dos grãos já exerce grande pressão inflacionária nos preços dos alimentos na Europa, o que pode limitar um pouco os ganhos daqui em diante. “Pode chegar um momento em que os países importadores comecem a usar mecanismos para limitar as compras a preços muito altos e frear um pouco o crescimento do consumo. Mas não há dúvida de que a demanda mundial vai continuar crescendo”, diz.
Aedson Pereira, analista da AgraFNP, alerta também para o risco que a alta volatilidade dos mercados pode trazer ao produtor rural. “Da mesma forma que os preços subiram rapidamente, podem cair.” Ele explica que o aperto no quadro de oferta e demanda atraiu capital especulativo ao mercado de grãos. “As commodities vivem um processo de financeirização muito parecido com o de 2008, quando a soja foi a US$ 16 para em seguida despencar de volta para a casa dos US$ 8 em Chicago”, lembra.