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Entrevista

"Estamos pagando para exportar"

Os setores exportacionistas estão em situação muito difícil, reduzindo dramaticamente suas exportações e perdendo espaço conquistado para outros países. Veja entrevista com presidente da Acav.

“Os setores exportacionistas estão em situação muito difícil, reduzindo dramaticamente suas exportações e perdendo espaço conquistado para outros países. A atual política cambial afetará o país a médio prazo e nossa balança comercial ficará comprometida em função da curva exponencial de crescimento das importações.” A advertência é do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Clever Pirola Ávila.

Assevera que as indústrias estão bancando as exportações, pois não podem jogar fora décadas de conquistas de clientes no mercado mundial. “Certamente manteremos as exportações, mas a pergunta que fica é: até quando conseguiremos?”

Nessa entrevista, o presidente da Acav avalia que a fase de recuperação não acabou, mas dificilmente será reeditado o bom desempenho de 2010. Considerado um dos mais experientes executivos da indústria brasileira de carnes, com 30 anos de atividade na área, Clever Ávila é engenheiro químico pós-graduado em processamento de alimentos. Tem 52 anos de idade e é natural de Criciúma (SC).

Quais as perspectivas da Acav para 2011? Teremos novamente um ano de recuperação para o setor de carnes, como foi 2010?

Clever Pirola Ávila – Acreditamos na continuidade da recuperação da crise financeira de 2008, que abalou de forma significativa 2009. Em 2010 recuperamos os patamares que tínhamos em 2008 e provavelmente, agora, voltaremos ao nosso ritmo normal de trabalho. 

A previsão de que a carne bovina continuará em alta, neste ano, fará, indiretamente, crescer o consumo de carne de aves?

Ávila – São proteínas animais distintas em termos de comportamento do mercado. A carne de aves vem conquistando seu espaço pelos seus aspectos intrínsecos e já superou o consumo per capita da carne bovina. 

O crescimento da produção brasileira em 2010 foi de 11,38% (12,23 milhões de toneladas), segundo a Ubabef. Será possível repetir esse feito em 2011?

Ávila – Este crescimento baseado em 2009 é em função da recuperação da crise financeira mundial.  O setor deve aproveitar as oportunidades de mercado que se abrirem ao Brasil e manter nossa posição nos mercados já conquistados.  Assim sendo, o crescimento estimado não repetirá estes patamares de expansão, mas, sim, absorverá o crescimento vegetativo e mais os mercados que se abrirem ao Brasil. 

Quanto deve crescer a produção em 2011?

Ávila – Deve oscilar entre 4% a 6%. 

A receita bruta com a exportação de carnes de aves – frango, peru, pato, ganso, ovos e material genético – cresceu 17% e atingiu 6,8 bilhões de dólares, resultado do embarque de quatro milhões de toneladas. Será possível repetir esse desempenho com a atual situação cambial?

Ávila – Novamente ressaltamos que os números de 2010 refletem uma recuperação da crise financeira. A atual situação cambial é um impeditivo para nosso crescimento mais vigoroso. Nossos custos, em dólares, são muito altos e nos tiraram uma parte da nossa competitividade. Portanto, repetir crescimentos na ordem de dois dígitos é praticamente impossível. 

O governo assevera que não mudará o câmbio, pelo menos neste ano. Como ficam os setores exportacionistas?

Ávila – Estes setores, focados na exportação, estão em situação muito difícil. Observa-se alguns, inclusive, reduzindo de forma dramática suas exportações e perdendo espaço conquistado para outros países. Esta política cambial afetará o país em médio prazo e nossa balança comercial ficará comprometida em função da curva exponencial de crescimento das importações. 

Nesse quadro de real valorizado, qual deve ser o crescimento ou o recúo das exportações?

Ávila – O setor está bancando as exportações, pois não podemos jogar fora várias décadas de conquistas de clientes. Certamente manteremos as exportações, mas a pergunta que fica é: até quando conseguiremos? 

A China – que aumentou em 332% as compras de carne de frango do Brasil – pode ser a salvação das exportações brasileiras deste ano?

Ávila – O Brasil começou a entender melhor a relação comercial com a China e aproveitou para ampliar seu espaço naquela região. O número do crescimento é grande em função da base anterior de comparação, muito pequena. Daremos a devida atenção à China, mas precisamos abrir ainda mais mercados: Indonésia, Malásia, outros países da África, etc.