O Banco Mundial aumentará os financiamentos para a produção agrícola nos países em desenvolvimento para tentar evitar crises e novas altas de preços no futuro, sinalizou o representante do banco na Europa, Carlos A. Primo Braga. Em entrevista ao Valor, o executivo informou que o Banco Mundial já elevou de US$ 2 bilhões para até US$ 6 bilhões os desembolsos anuais para produção agrícola em cinco anos, e que a tendência é de o montante continuar aumentando diante da demanda por alimentos.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicarão no dia 15 de abril um relatório no qual examinam a alta de 45% nos preços entre julho de 2010 e fevereiro deste ano, antecedendo reuniões de agricultura do G-20, grupo que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes.
Contrariando a posição do presidente francês Nicolas Sarkozy, que acusa especuladores de causar fome, as duas instituições reconhecem que o setor financeiro continua a ter posição muito importante no mercado de commodities, mas que esse não tem sido o fator determinante para a alta de preços.
Para ambas, o principal fator é mesmo o quadro de oferta e demanda. Banco Mundial e FMI estimam que os preços aumentaram no rastro de problemas climáticos como os verificados na Rússia, nos EUA e na Austrália, que prejudicaram significativamente a produção. Além disso, os níveis de estoques em geral estão muito abaixo dos volumes dos anos 90, alimentando uma flutuação significativa nos preços.
Ao contrário do que aconteceu na disparada de preços agrícolas entre 2007 e 2008, desta vez as duas instituições constatam que políticas protecionistas e restrições a exportação foram muito mais limitadas, refletindo melhor cooperação internacional.
Para evitar a forte flutuação nas cotações, Bird e FMI vão estimular politicas de incremento da produção, incluindo o aumento dos financiamentos multilaterais. A população cresce e a classe média ganha peso nos emergentes, ampliando a demanda por produtos agrícolas. Estudos mostram que a produção de alimentos precisará crescer 70% até 2050.