Moda, equipamentos de infra-estrutura, energia, alimentos e tecnologia serão os setores prioritários no esforço de encontrar compradores na China para produtos brasileiros de maior valor agregado, informou ontem o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Ministério de Relações Exteriores, Norton Rapesta. A Agência de Promoção de Exportações (Apex), segundo o coordenador de Acesso a Mercados, Ricardo Santana, também promoverá seminários com potenciais clientes para exportadores de calçados, componentes de calçados e joias, e alimentos, como carnes, frutas, café, laticínios, mel e vinho.
Os alvos foram identificados em pesquisas de mercado e passarão a orientar ações de apoio governamental, informaram autoridades brasileiras em seminário promovido pelo Itamaraty para detalhar as relações econômico-comerciais entre Brasil e China, às vésperas da viagem da presidente Dilma Rousseff ao país. O governo, após quase sete anos de tentativas de entrar no mercado chinês, com participação em 52 seminários, ações em feiras importantes, como a de Xangai e iniciativas setoriais, ainda encontra dificuldades de aproveitar o boom de importações na China.
“Nosso desafio é colocar mais produtos de alto valor agregado em nossas exportações da China, temos problema cambial”, reconheceu a subsecretária-geral de Política do Ministério de Relações Exteriores, Edileuza Reis, que disse ver condições, porém, de buscar oportunidades de negócio no país. “Temos mecanismos para evitar que temas pontuais, circunstanciais, acabem contaminando a agenda, que é de longo prazo, com enormes possibilidades”, disse. Além do câmbio, a distância da China e a atratividade de outros mercados, como o próprio mercado interno do Brasil, contribuem para desencorajar os empresários, admite o Itamaraty.
Para Rapesta, as missões diplomáticas abrem caminho para quando as empresas “passarem a conhecer melhor a China e os gargalos de logística forem suplantados”. Ricardo Santana deu o exemplo dos exportadores de café, que, após anos namorando o mercado chinês, começaram a explorar a demanda do setor hoteleiro e restaurantes, por onde pretendem atrair o consumidor chinês.
O governo chinês está muito receptivo a propostas para aumentar a qualidade das exportações brasileiras ao país, afirmou o ex-presidente do BNDES, Antônio Barros de Castro, consultor do Conselho Empresarial Brasil-China. Um problema, porém, é ter uma indústria equipada para responder a essa oportunidade, acredita. “Uma série de indústrias brasileiras está nos ‘trinques’, pronta para competir com os Estados Unidos ou a Europa, só que o mundo é outro.”
Para Barros de Castro, os países que não buscaram produtos de ponta, como os Estados Unidos, ou se ajustaram à cadeia produtiva da indústria chinesa, estão “num mundo que não existe mais, e não é por paliativos que se vai consertar isso”. Se paliativos, como a defesa comercial, forem usados para transformar a indústria, eles terão utilidade, caso contrário, serão “ilusão”, preveniu.