Os preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional não passaram incólumes pelas turbulências árabes, europeias e japonesa que agitaram os mercados globais em março, mas os fundamentos de oferta e demanda da maior parte dos produtos mostraram que ainda é pequeno o espaço para quedas bruscas mesmo em períodos de grandes incertezas.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez) de commodities transacionadas nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) apontam que apenas café e algodão encerraram o mês passado com variações positivas na comparação com fevereiro – de 4,78% e 7,05%, respectivamente.
As demais registraram quedas, entre 1,52% (milho) e açúcar (11,97%), mas mesmo assim os saldos continuam em geral positivos em 2011 e nos últimos 12 meses. Na comparação com as médias de dezembro, os resultados de março só são inferiores para açúcar (7,63%) e trigo (3,17%), e há ganhos significativos como os do algodão (45,41%). Em relação às cotações médias de março de 2010, todos os produtos aparecem com valorizações, de 12,89% (suco) a 137,42% (algodão).
“Os fundos saíram um pouco dos mercados de commodities agrícolas [diante das turbulências], mas a tendência é que continuem com posições sustentáveis diante de fundamentos firmes e do dólar fraco”, diz Flávia Moura, analista da Newedge em Nova York. Flávia é especialista em grãos, que são mais negociados nas bolsas, mas a consideração pode ser ampliada para os demais produtos.
Não por acaso, quem mais recuou em março tem os quadros de oferta e demanda menos apertados. É o caso do açúcar, cuja produção deverá aumentar 3,2% no Brasil na safra 2011/12, e do trigo, que entre os grãos tem as projeções de estoques mundiais mais folgados. E o mercado está de olho nos estoques, vide o que aconteceu a partir da divulgação de novas estatísticas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) na quinta-feira.
Em um dos levantamentos que divulgou, o USDA confirmou que a área plantada de milho deverá aumentar 4,5% nos EUA em 2011/12 (40% da safra virou etanol em 2010/11), para 37,3 milhões de hectares – a segunda maior desde 1944 -, que a área de algodão crescerá 14,5%, para 5,1 milhões de hectares, e que, em parte por causa desses incrementos, a de soja cairá 1%, para 31 milhões de hectares.
É evidente que o mercado registrou as informações, mas elas vieram dentro do esperado e foi o reporte de estoques do USDA, este sim surpreendente, que mexeu com os preços no dia, oferecendo sustentação. Em 1º de março, informou o USDA, os estoques americanos de milho estavam 15% inferiores ao registrado na mesma época de 2010, enquanto os de soja eram 2% mais magros. O trigo pegou carona na alta desses grãos e também subiu em Chicago na quinta-feira, mesmo com estoques 5% mais gordos – mas menores que o previsto pelos traders – e apesar da previsão do USDA para a área plantada total nos EUA na temporada 2011/12 ter indicado aumento de 8,2%.