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Economia

BB muda estratégia para recuperar clientes

Foco do Banco do Brasil na "classe média" rural será reforçado. "Excluídos" da agricultura familiar entram no radar.

BB muda estratégia para recuperar clientes

Dono da maior carteira de crédito rural do país, superior a R$ 75 bilhões, o Banco do Brasil prepara mudanças em sua estratégia para recuperar clientes “perdidos” durante recente período das crises climática e de renda no campo.

À época mais endividado e considerado menos eficiente e com baixa capacidade gerencial, um grupo de 20 mil produtores ficou fora dos planos do banco entre 2004 e 2007. Agora, passado o período mais crítico das renegociações de dívidas e da “blindagem” de suas operações rurais, o BB passará a concentrar esforços em dois desses estratos do campo: a “classe média” rural e os produtores “excluídos” da agricultura familiar.

Pelo plano de ação, os médios produtores terão elevação de limites de crédito, estímulo para contratar proteção de preços em bolsa (“hedge”) e seguro rural, além de melhorar a gestão para reduzir custos de financiamento. O grupo familiar será alvo de uma blitz de assistência técnica e crédito para investimento. A meta é modernizar as atividades, atendendo a cada segmento de forma específica.

Responsável pela gestão da carteira composta por 1,7 milhão de produtores desde meados de 2007, o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes Pinto, avalia que a reformulação surtirá efeitos ainda mais visíveis no médio prazo. “Vamos fazer mais agronegócio sem correr mais riscos”. Ele deixa o cargo justamente hoje. Será substituído pelo agrônomo e ex-senador Osmar Dias. “O Osmar é alguém que entende do setor e chega em um bom momento para o banco”, avalia Guedes, ex-ministro da Agricultura no governo Lula.

A mudança interna para resgatar esses produtores da concorrência, seja de bancos, tradings ou revendedores de insumos que financiam as safras, está em curso no BB. O banco já “resgatou” 15,7 mil produtores ao elevar limites de crédito em R$ 3,6 bilhões. A instituição passou a premiar suas agências pelo aumento no volume desse tipo de empréstimo – o programa “Gestão da Safra”. As alterações planejadas terão auxílio de uma rede de 217 agrônomos e veterinários espalhados pelos Estados. Eles farão o papel de recuperação dos clientes perdidos, sobretudo em regiões mais complicadas, como o sul de Minas e o Centro-Oeste.

O banco, que opera hoje com 28 mil planilhas de custos de produção e informações sobre cada microrregião agrícola do país, começou a aprofundar esses levantamentos. Nesta nova fase, passará a avaliar capacidade gerencial e operacional, tecnologia de produção e processos de comercialização de cada “novo” cliente. “Vamos quebrar os ciclos de anos bons e muito ruins para ajudar o produtor e proteger o banco”, afirma José Carlos Vaz, diretor de Agronegócio do BB.

No longo período de reestruturação da gestão dos ativos rurais, que incluiu medidas para driblar a crise financeira global iniciada em 2008, o banco reclassificou o risco de crédito de 94 mil produtores do país. Foram R$ 11,2 bilhões em operações antigas que resultaram na redução de R$ 334 milhões em provisões (recursos para cobrir eventuais inadimplências).

Depois dessas reavaliações, o BB passou a induzir o uso de mecanismos mitigadores de risco de crédito em suas operações. Nesta safra (2010/11), 55% têm proteção do seguro oficial (Proagro) e 6% de protegidos por “hedge” em bolsa. O banco vinculou crédito à contratação de seguro e proteção de preços. Passou a antecipar crédito de custeio, criou um fundo de investimento em participações em empresas do setor expandiu sua atuação na agricultura familiar.

Nos últimos quatro anos, o BB elevou sua carteira rural, de R$ 48,8 bilhões para R$ 75 bilhões; reduziu as provisões de 5% para 3,8%; diminuiu a inadimplência de 7,4% para 2,5%; e viu o risco médio das operações passar de 6,6% para 5,1%. A carteira de custeio tem hoje 98,7% das operações classificadas como risco “AA” e “C”, o que reflete a mudança nos critérios de gestão. Nos financiamentos de investimento, o índice está em 99,1%.