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Economia

Empresas brasileiras afetadas pela crise retomam grau de investimento

A BRF Brasil Foods está entre as companhias que registraram prejuízos com a crise financeira mundial e agora começam a reconquistar a confiança do mercado.

A conquista da classificação de grau de investimento pela BRF Brasil Foods – resultado da fusão entre Perdigão e Sadia – marca uma nova fase para empresas brasileiras que amargaram prejuízo com derivativos cambiais e restrição a linhas de crédito durante a crise financeira. O movimento reflete a reestruturação na gestão das companhias e as boas perspectivas para o País, cuja classificação de risco também foi elevada recentemente.

A expectativa é de que outras companhias que enfrentaram a desconfiança dos investidores, como a Fibria, recebam em breve o mesmo reconhecimento. Só este ano, a Fitch promoveu a nota de quatro companhias nacionais, incluindo a BRF. Em 2010, nove empresas tiveram a classificação melhorada e quatro tiveram redução na nota. O ambiente econômico positivo dá sustentação aos fundamentos das empresas, que aproveitaram o momento para reforçar os balanços e a posição de caixa, diz o diretor sênior de avaliação de empresas da Fitch, Ricardo Carvalho.

A melhora no rating soberano ajuda, mas a elevação da classificação das empresas não é automática. “A exceção fica por conta de companhias que estejam diretamente ligadas ao governo, como a Eletrobrás”, diz Carvalho. A principal característica comum entre os emissores que possuem grau de investimento é o perfil de crédito sólido, capaz de manter condições de honrar compromissos mesmo em cenários adversos.

Apesar de terem sido criticadas durante a crise por não alertarem sobre o risco nas operações lastreadas em créditos subprime, as agências de rating continuam sendo referência na análise das condições financeiras de emissores no mercado financeiro. Um rating melhor contribui, por exemplo, para que empresas e governos levantem recursos a custos mais baixos.

A conquista do grau de investimento pela BRF aconteceu quase três anos após o prejuízo de R$ 2,5 bilhões apurado pela Sadia com apostas em derivativos cambiais exóticos. A companhia estava a apenas um degrau do clube de empresas nacionais com grau de investimento quando foi varrida pelas perdas que culminaram na fusão com a rival Perdigão.

O trabalho de reestruturação da companhia incluiu uma oferta de ações de R$ 5,2 bilhões que reduziu o endividamento e contribuiu para que a BRF herdasse o rating da Perdigão – que também estava uma classificação abaixo do investment grade. No fim de 2010, a relação entre a dívida líquida da empresa e o Ebitda (geração de fluxo de caixa) era de apenas 1,7 vez.

No relatório em que anunciou a promoção da nota da BRF, a agência de risco destaca que, após a fusão, a empresa duplicou a base de receitas, expandiu-se para novos mercados e fortaleceu sua posição nos mercados existentes. Após obter o grau de investimento pela Fitch, a Standard & Poor’s (S&P) alterou a perspectiva da companhia para positiva, um sinal de que a nota, atualmente em “BB+” (uma abaixo do grau de investimento) pode em breve ser melhorada.

Na esteira das conquistas por parte de empresas brasileiras, a Celpe, distribuidora de energia controlada pela Neoenergia, e a petroquímica Braskem também receberam recomendação de grau de investimento pela Standard & Poor’s. A avaliação inédita da Braskem foi corroborada pela Moody’s e é sustentada nos bons resultados da companhia desde a aquisição da Quattor. “A agência esperava que reduzíssemos nossa alavancagem e que capturássemos as sinergias mais lentamente”, comenta a vice-presidente financeira da petroquímica, Marcela Drehmer.

Volta por cima. A lista de companhias que passaram por reviravolta desde a crise econômica iniciada nos Estados Unidos é extensa. Maior fabricante mundial de celulose branqueada de eucalipto do mundo, a Fibria é um exemplo. A empresa foi criada em setembro de 2009, a partir da união entre Aracruz e Votorantim Celulose e Papel (VCP).

Meses antes, as duas companhias perderam o grau de investimento, em decorrência do prejuízo apurado pela Aracruz com operações de derivativos e da oferta de compra feita pela VCP aos controladores da Aracruz. Desde então, retomar o grau de investimento é uma prioridade para a diretoria da Fibria. “A empresa vai continuar trabalhando para atingir os requisitos do investment grade”, afirma o gerente de Relações com Investidores, André Luiz Gonçalves.

Desde dezembro, quando a Fibria anunciou a venda da participação de 50% no Conpacel e da distribuidora KSR à Suzano Papel e Celulose, por R$ 1,5 bilhão, a avaliação da empresa foi revista pelas agências. “No primeiro trimestre de 2009, a relação dívida líquida sobre Ebitda era de quase 8 vezes”, lembra. Ao final de 2010, o nível de alavancagem havia caído para 3,6 vezes. Com isso, cresce a expectativa de que a Fibria possa ingressar, em breve, no grupo de empresas brasileiras com grau de investimento.