A proposta que o Brasil apresentará hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC), para os países discutirem a relação entre taxa de câmbio e o comércio internacional poderá sofrer fortes resistências e dificilmente terá avanços rápidos.
A delegação brasileira vai, com prudência, “testar o terreno”. Os Estados Unidos, que sempre reclamaram do câmbio da moeda chinesa, nunca usaram a OMC para discutir o tema, por entender que não era ali que se resolveria a questão A China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, tampouco parece ver interesse na proposta.
Várias delegações disseram que o tema depende de seus ministérios de Finanças e por isso não têm como tomar posição. E tudo isso é apenas para discutir no Comitê de Finanças da OMC, não para tomar decisões, como por exemplo se determinada taxa de câmbio representa subsídio disfarçado às exportações.
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, em encontro recente com o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, em Washington, foi cauteloso sobre o rumo da proposta feita pelo governo do Brasil. A verdade é que vários países o procuraram, indagando sobre como a entidade pode ser acionada para combater a influência de desvalorizações competitivas de moedas sobre o comércio. Lamy tem repetido que o melhor caminho não é a OMC, e sim um acordo multilateral, passando pelo G-20, atualmente o diretório econômico do planeta, e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao mesmo tempo em que Lamy alerta que políticas cambiais focadas em ganhar vantagem comercial desleal podem causar sérios riscos para a estabilidade econômica, a Organização Mundial do Comércio se prepara silenciosamente para a hipótese de um conflito envolvendo a taxa de câmbio. No caso da proposta feita pelo governo brasileiro, porém, o plano é de colocar o tema na entidade, bem longe de abrir disputa.