O primeiro relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) com projeções para os volumes de oferta e demanda de grãos no país e no mundo nesta safra 2011/12, divulgado ontem, derrubou as cotações de milho e trigo e, por tabela, arrastou também para baixo os preços de soja e trigo na bolsa de Chicago, referência para o comércio dessas três commodities.
Os números mais “baixistas” vieram no quadro de fundamentos do milho. O USDA surpreendeu o mercado ao estimar os estoques finais mundiais da temporada em 129,14 milhões de toneladas, 5,7% superiores aos do ciclo 2010/11, com destaque para um crescimento de 23,3% nos EUA. Em parte, o incremento para os estoques do país está relacionado à queda do ritmo de crescimento da demanda para a produção de etanol. Conforme o USDA, serão “apenas” 1,3 milhão de toneladas de milho a mais que em 2010/11 para o biocombustível – que absorverá, no total, 127,3 milhões de toneladas, ou 37,1% da produção estimada para os EUA na safra que se desenvolve.
Como o mercado não esperava tanto, as cotações dos contratos do grão com vencimento em julho atingiram limite de baixa ontem em Chicago (30 centavos de dólar por bushel) e fecharam a US$ 6,7725. Apesar do tombo, a valorização acumulada em 12 meses ainda chega a 79,64%, conforme o Valor Data.
Mas, para desgosto de exportadores e alegria de quem quer ver a pressão dos alimentos sobre a inflação diminuir, o pessimismo sobre o futuro das cotações ontem dava o tom, apesar das muitas incertezas, inclusive climáticas, que pairam sobre as safras que estão sendo cultivadas no Hemisfério Norte. Foi o clima adverso acima do Equador e seus reflexos sobre as colheitas que catapultaram os preços dos grãos no último ano.
“No curto prazo, é definitivamente o fim do ‘bull market'”, disse Terry Reilly, analista do Citigroup em Chicago, à agência Dow Jones Newswires. Os estoques finais previstos pelo USDA representarão 15% do consumo total em 2011/12, ante 14,6% em 2010/11. Só que tudo isso também depende do Hemisfério Sul, onde o plantio da nova safra começará a ganhar força apenas em setembro.
No mercado de trigo, pesou mais sobre as cotações a estimativa de aumento da produção global do que a leve queda dos estoques finais, inclusive nos EUA. E elas despencaram também pelo fato de o trigo poder ser usado como alternativa ao milho em rações.
No caso da soja, realça Renato Sayeg, da Tetras Corretora, a projeção do USDA para os estoques finais globais é de queda, confirmando que o aumento da produção mundial tem sido muito menor que o da demanda. Para ele, nessa toada o cenário poderá se agravar nas duas próximas safras. Ontem, em Chicago, a baixa do grão foi moderada. Para Sayeg, contudo, o principal fator que pode tirar sustentação das commodities nos próximos meses não está nos fundamentos, mas no dólar. Se a moeda americana se fortalecer, com sugerem sinais de Washington, as cotações tendem a recuar.