A Marfrig, uma das maiores empresas de carnes do país, apresentou ontem dados consolidados de seu primeiro inventário de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global. Já seria uma boa notícia para um representante importante de um setor com problemas ambientais conhecidos. Mas o avanço foi a magnitude do levantamento: a empresa mapeou todas as suas 152 unidades em 22 países, avançando sobre boa parte da cadeia produtiva.
De acordo com o levantamento, realizado pela consultoria Key Associados, o Brasil lidera com 41% do total de gases jogados na atmosfera anualmente durante as atividades operacionais de companhia – foram 763.590 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2 e) em 2010. Para o diretor de sustentabilidade Clever Ávila, isso se explica pelo fato de o país ter o maior parque fabril do grupo, presente nos EUA, Reino Unido, França, Argentina e Uruguai.
A proporção de emissões cai significativamente nos demais países de atuação da Marfrig. Os EUA, onde o grupo entrou após a compra da Keystone, empresa basicamente de industrializados, representou 16% das emissões totais (291 mil t/CO2 e). Uruguai, 10% (180 mil t/CO2 e), Reino Unido 9% (170 mil t/CO2 e), Argentina 5% (100 mil t/CO2 e), entre alguns exemplos.
O inventário refere-se aos rebanhos bovino, ovino, suíno e aves das unidades brasileiras e internacionais, de incubatórios e fazendas responsáveis pela engorda de bovinos à entrega de produtos ao primeiro centro de distribuição.
Após essa primeira fase, o próximo passo será criar ações de sustentabilidade para serem aplicadas de longo prazo. Para tanto, a Marfrig fará no início de novembro um workshop com lideranças mundiais para discutir metas.
Esse primeiro estudo, que será atualizado anualmente, servirá de modelo para ajustes para minimizar as emissões futuras de gases poluentes, e também para comprovar políticas que estão dando certo. Uma delas foi o investimento de renovação energética, migrando de um matriz suja (termelétrica) para limpa, afirma Ávila.
O inventário demonstrou, por exemplo, que 35% do total de emissões do grupo foram “neutras” – a emissão de poluentes foi compensada pela substituição de energia a partir de fontes renováveis. “Isso mostra que a nossa estratégia foi acertada”, diz o executivo.
Hoje, o grupo Marfrig tem contratos de cinco anos com várias PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) para suprimento de energia em algumas de suas plantas. Ávila afirma que outra possibilidade, na qual a empresa presta bastante atenção, é a energia eólica. “Estamos de olho no leilão de agosto”.
Além disso, a Marfrig já produz energia própria em plantas de Promissão (SP) e Diamantino (MT) a partir do bagaço de cana e biogás. Isso representa 3% do consumo total de energia no país. A ideia é dobrar essa geração a partir de 2012.