A BRF Brasil Foods divulgou ontem a lista de ativos que serão vendidos em conjunto para atender as restrições do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aprovar sua criação. A relação lista oito plantas que serão alienadas integralmente, incluindo as de Lages e Salto Veloso, em Santa Catarina, e de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, já noticiadas, além da venda parcial de duas outras operações e de equipamentos industriais da unidade de Valinhos, em São Paulo.
No total, as unidades colocadas à venda empregam cerca de nove mil funcionários e têm ao redor de 1.300 integrados, tanto de aves quanto de suínos, conforme a assessoria de comunicação da BRF.
A lista, enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), provocou apreensão dos funcionários e criadores integrados ligados às plantas que serão vendidas.
Representantes dos sindicatos dos trabalhadores de algumas das localidades afetadas ouvidos pelo Valor disseram temer demissões após os seis meses durante os quais o comprador terá que manter o nível de empregos nas unidades. Já as entidades dos integrados reclamam que sequer têm garantia de prazo mínimo para a continuidade do fornecimento de animais. O prazo de seis meses sem demitir está previsto no acordo em que o Cade permitiu a compra da Sadia pela Perdigão.
Além das plantas de Lages, Salto Veloso e Santa Cruz do Sul, a BRF terá que se desfazer das unidades de Três Passos e Bom Retiro do Sul (RS), Duque de Caxias (RJ), São Gonçalo do Campo (BA) e Brasília. Também terá que vender parte das operações de Carambeí (PR) e Várzea Grande (MT).
Em Três Passos a BRF abate 1,3 mil suínos por dia e fabrica ração para abastecer os 200 integrados da região, informou o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade, Erhardt Hepp. A unidade produz cortes com a marca Sadia e planejava aumentar os abates para 4 mil animais/dia a partir de 2012, acrescentou. Segundo ele, a determinação da venda causou “surpresa”, porque no fim de 2010 a empresa havia dito que a unidade seria preservada. “Agora não está claro se o comprador será obrigado a manter o número de integrados”, disse.
O temor é semelhante para os 363 empregados da planta de Bom Retiro do Sul, onde a BRF produz 1,9 mil toneladas por mês de embutidos das marcas Perdigão, Confiança e Batavo, afirmou o presidente do sindicato dos trabalhadores na indústria da alimentação da cidade, Pedro Malamnn. “Não temos garantia de que os empregos serão mantidos após os seis meses”, disse. O vice-presidente do sindicato de Santa Cruz, Renê da Rosa, também teme pelo futuro dos 400 funcionários da Excelsior, que produz embutidos.
Em Carambeí, serão vendidas as linhas de abate, cortes e de embutidos suínos das marcas Perdigão e Batavo, que absorvem mil dos 4,8 mil empregados da unidade. Os demais trabalham em produtos avícolas e lácteos, que permanecerá com a BRF. “A situação aqui é complexa, porque toda a estrutura de apoio, como refeitório e transportes, é unificada”, disse o secretário-geral do sindicato dos trabalhadores na indústria da alimentação da cidade, Wagner Rodrigues.
Em Várzea Grande, a BRF irá colocar à venda a unidade de processados. A operação de bovinos não será afetada. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Várzea Grande, Fernando Sé, a unidade da BRF é a maior geradora de impostos na cidade e uma das maiores empregadoras.