Após três advertências, sete multas administrativas do órgão ambiental paulista e uma ameaça de interdição, a JBS anunciou ontem investimentos de R$ 14 milhões para adequação de sua fábrica de couros em Lins (SP).
A planta receberá até outubro cinco neutralizadores de odor, na tentativa de pôr fim ao incômodo causado pelo processo industrial do couro à comunidade local. Situada entre a rodovia Marechal Rondon e a BR-154, a planta está a menos de dois quilômetros de distância da cidade.
A unidade de Lins produz sete mil peles de couro por dia, sendo quase todo o volume voltado ao mercado externo. A planta, que pertencia à Bertin – adquirida pela JBS em setembro de 2009 -, tem um histórico substancioso de irregularidades ambientais.
A primeira advertência ocorreu em 3 de agosto de 2009, um mês antes da troca de comando da empresa. Dois dias depois veio a segunda, seguida por multas referentes à disposição de resíduos em áreas agrícolas e ao lançamento de efluentes fora dos padrões ambientais legais.
Em janeiro do ano passado, a Cetesb, agência de saneamento ambiental paulista, realizou o primeiro auto de infração pela emissão de odor, motivo de outras quatro multas que culminaram com a solicitação de interdição da planta e, posteriormente, um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público.
O odor tem sido o calcanhar de aquiles da JBS devido ao uso do sulfeto, produto químico que tem em sua composição o enxofre. “É o cheiro do ovo podre”, explica Carlos Henrique, gerente da Cetesb em Lins. Apesar dessa característica, ele é indispensável na produção do couro, que é mergulhado por 24 horas em barris com o produto para a retirada dos pelos dos animais.
O problema ocorre quando os barris são abertos. As peles vão para o beneficiamento e o sulfeto segue em circuito interno para reutilização ou tratamento. “Normalmente o cheiro fica contido na planta, mas sempre um pouco escapa”, afirma Andressa Torres, gerente de Meio Ambiente da divisão de couros da JBS.
Segundo ela, o inverno de 2010 foi especialmente ruim. Isso porque o ar mais denso dos dias frios faz com que o cheiro de enxofre fique nas camadas mais baixas de ar, sendo percebido de forma inconfundível pela população. O vento de sul para norte, que vai em direção à cidade, é outro complicador. “Eram reclamações praticamente diárias”, diz Andressa.
Tamanho problema tem forçado a JBS a trabalhar em melhorias. O monitoramento constante de efluentes e a substituição do sulfeto por produtos alternativos são algumas delas. Agora, o aporte de R$ 14 milhões (R$ 4 milhões só para pesquisas ambientais por meio de convênio acadêmico, exigência do TAC) pode trazer algum alívio para Lins.