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P&D

Biotecnologia contém uso de defensivo

Plantio de variedades alteradas geneticamente cobriu 25,8 milhões de hectares na safra 2010/11.

O  principal desafio a ser vencido pela agricultura é conciliar a necessidade de ampliar a oferta de alimentos, a custos mais baixos, e assegurar, ao mesmo tempo, a preservação do meio ambiente, evitando desmatamentos e outras formas de agressão ambiental. A pesquisa já trabalha no desenvolvimento de soluções, algumas já disponíveis no mercado, que poderão permitir ao campo alcançar o ponto de equilíbrio entre a expansão da atividade e os impactos ambientais gerados a partir da exploração das áreas disponíveis para a produção de grãos.

A indústria de sementes investe em tecnologias que deverão ajudar a poupar recursos vitais como a água e reduzir a necessidade de aplicação de produtos químicos nas lavouras, com efeitos em cadeia sobre o meio ambiente, ao evitar emissões de gases causadores do efeito estufa e ajudar a preservar a biodiversidade. Como “efeito colateral”, essas tecnologias têm permitido ganhos de produtividade, ao afastar insetos e pragas indesejados, que podem, se não controlados devidamente, gerar perdas de até 30% para as lavouras.

Márcio Santos, diretor de gerenciamento de produtos da Monsanto, cita indicadores da consultoria Céleres para demonstrar os impactos da aplicação de novas tecnologias embutidas nas gerações mais recentes de sementes. Na safra 2010/11, considerando-se as culturas de soja, milho e algodão, o plantio de variedades alteradas geneticamente em laboratório cobriu quase 25,8 milhões de hectares, representando 68% da área total combinada daqueles produtos.

Nas últimas 12 safras, sempre de acordo com o levantamento da consultoria, a biotecnologia evitou a pulverização de um volume equivalente a 6,87 mil toneladas de ingredientes ativos contidos em defensivos químicos, deixando de consumir 12,6 bilhões de litros de água, equivalente ao abastecimento de uma cidade de 287,2 mil habitantes. Deixaram de ser emitidos, ainda, em torno de 270,4 mil toneladas de CO2, funcionando como se 43,7 mil veículos tivessem sido retirados de circulação.

O aumento da eficiência hídrica tem sido o foco central das pesquisas que a Syngenta desenvolve ao redor do mundo, Brasil incluído. “Fator limitado e limitante na produção agrícola, a água desempenha papel crítico nas fases de germinação, polinização e enchimento dos grãos”, constata Gloverson Moro, diretor de pesquisa e desenvolvimento para a América Latina da empresa. Neste momento, seus pesquisadores estão concentrados em duas linhas de trabalho, sempre com o objetivo de ampliar a eficiência das plantações em situação de estresse hídrico acentuado, como forma de prevenção ao risco que as mudanças climáticas deverão impor à produção agrícola nas próximas décadas.

Numa primeira linha de ataque, a pesquisa da Syngenta explora a genética da própria planta para identificar genótipos mais tolerantes à falta de chuvas. O trabalho, realizado principalmente no oeste dos Estados Unidos, Chile e oeste da Argentina, desenvolveu marcadores moleculares que facilitam e aceleram a seleção e o melhoramento de variedades mais tolerantes à privação hídrica.

A meta inicial da Syngenta, detalha Moro, era atingir um nível de recuperação em torno de 25%, “mas chegamos a 50%”. Esse indicador mensura a capacidade da planta de recuperar a produtividade mesmo submetida a períodos de seca mais prolongados. Iniciado há cinco anos, o trabalho resultou, no ano passado, no lançamento do milho Artesian, tecnologia em fase de validação no Brasil e que deverá ser aplicada no cultivo da chamada safrinha.

Essa mesma linha de atuação contempla ainda uma vertente biotecnológica, com a introdução na semente de uma enzima modificada que altera o metabolismo da planta sob estresse hídrico, estimulando-a a preservar a produção de açúcares consumidos durante o processo de formação dos grãos. Numa segunda área de trabalho, as equipes da Syngenta chegaram a um bloqueador químico que inibe a atuação do etileno – hormônio vegetal natural que dispara uma série de reações metabólicas quando a planta enfrenta a falta de chuvas. “No caso do arroz, esta é uma tecnologia que já está bastante próxima do mercado, com aplicação principalmente na Ásia.”

A Pioneer Brasil, segundo seu diretor de produto e tecnologia, Dantas Carneiro, tem concentrado esforços no desenvolvimento de tecnologias próprias ou em parceria com outras gigantes, como a Monsanto e a Dow AgroSciences, com uso de técnicas biogenéticas. Sob licenciamento da primeira, a Pioneer já explora as tecnologias YeldGard, que asseguram proteção ao milho contra ataques de lepidópteros, e Herculex, desenvolvida em parceria com a Dow. Esta última variedade incorpora tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), que estimula a planta do milho a produzir substâncias tóxicas para determinadas famílias de insetos que causam danos à lavoura.

Neste momento, a empresa está migrando para outra tecnologia, que utiliza os recursos e eventos combinados do YeldGard, Herculex e Viptera (produto que Syngenta lançou no mercado brasileiro na safra 2010/11) para assegurar maior proteção contra insetos que atacam a parte aérea das plantações, ampliando o espectro das pragas combatidas. Esse novo produto, espera Carneiro, deverá chegar ao mercado no ciclo 2013/14.

Os recursos tecnológicos atualmente embutidos nas sementes, prossegue ele, derrubaram o total de pulverizações de seis a sete – e em alguns casos até 10 ou 11 – para “uma ou zero”. A cada aplicação de agrotóxico, segundo Carneiro, são consumidos 200 litros de água por hectare. “Trata-se de uma economia de 1,2 mil a 1,4 mil litros por hectare, no mínimo”, estima. Numa projeção, considerando-se que o país cultivou na safra passada quase 24,0 milhões de hectares de soja, a economia pode atingir quase 34 bilhões de litros, levando-se em conta a perspectiva pouco realista de que a queda nas pulverizações se dará de forma linear para todos os plantios. A Monsanto foi a pioneira no lançamento da tecnologia RR, com a oferta da soja tolerante ao glifosato, princípio ativo do Roundup Ready, da própria multinacional, e já comercializa o algodão Bolgard e diversas linhas e versões do milho Bt. Esses produtos reduziram o número de pulverizações para uma ou nenhuma, dependendo da lavoura, diante de duas a quatro exigidas nos casos da soja e do milho, respectivamente. “Com duplo benefício ambiental e para a saúde humana, já que o produtor deixou de usar químicos de média e alta toxicidade e foi possível preservar as populações de inimigos naturais das pragas e de insetos envolvidos no processo de polinização”, afirma Santos.

A grande mudança, que deverá representar uma “ruptura de mercado”, nas palavras de Santos, está sendo aguardada com o lançamento, previsto para a safra 2012/13, da soja com a tecnologia Intacta RR2 Pro, que combina três eventos em só produto, eliminando a necessidade de submeter a semente ao tratamento com substâncias tóxicas. Essa variedade, resultado de uma parceria com nove empresas e institutos de pesquisa, agrega pela primeira vez mecanismos para controlar pragas de solo, tornando a planta resistente às lagartas.