A brasileira JBS, uma das maiores processadoras de carne do mundo, finalmente conseguiu se desfazer de uma das quatro unidades industriais na Argentina cujas atividades estavam paralisadas desde 2010.
A empresa irá vender a unidade de bovinos de San José, na Província de Entre Ríos, para o governo local, que contará com dinheiro do Fundo Bicentenário, administrado pelo governo nacional. O Fundo Bicentenário é formado por recursos de fundos de pensão estatizados em 2008 e desde então tem sido o principal instrumento oficial de financiamentos a longo prazo.
Segundo comunicado do governo da Província, um total de 70 milhões de pesos argentinos, o equivalente a cerca de US$ 16 milhões, será utilizado para “adquirir e colocar em marcha” o frigorífico e a negociação para celebrar o contrato com a JBS está entrando em uma fase “definitiva”.
De acordo com a informação do governo, a planta voltará a empregar os 400 funcionários que dispunha quando interrompeu suas atividades e será gerida por uma estatal, a “Procesadora Ganadera Entrerriana”, constituída em setembro com 85% de seu capital nas mãos do governo provincial e 15% em poder de cooperativas de produtores.
O frigorífico brasileiro vinha negociando há muito tempo a venda da unidade de San José, mas não quis comentar o comunicado divulgado pela Província de Entre Rios. A falta de financiamento para o governo local era exatamente o que estava travando a transação.
A empresa adquiriu a argentina Swift em 2005, mas começou a ter problemas sérios de rentabilidade no país desde que o governo argentino estabeleceu uma retenção de 40% sobre as exportações de carne bovina. Por esse mecanismo, para cada dois quilos e meio de carne exportados, a empresa é obrigada a garantir um quilo para o mercado doméstico, em preços abaixo da cotação.
Todo o setor entrou em uma crise da qual ainda não saiu e o consumo de carne bovina na Argentina caiu pela metade em um contexto de alta de consumo de outras proteínas. No ano passado, a JBS diminuiu o seu quadro de empregados na Argentina, de 4,7 mil para 2,9 mil funcionários, e decidiu reorientar sua produção, até então voltada para a comercialização de cortes bovinos nobres ao exterior, para o fornecimento de carne processada para o mercado interno.
Em julho deste ano, a direção da empresa na Argentina estimou que o faturamento da subsidiária seria da ordem de US$ 500 milhões, o que equivalia a aproximadamente 6% da receita global da JBS SA em 2010. Cerca de 60% dos recursos ainda provinham de exportações.