Num momento em que as incertezas sobre o futuro da demanda global por alimentos só fazem aumentar em razão da persistente crise financeira em países desenvolvidos, sobretudo europeus, os ajustes realizados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em suas estimativas para oferta mundial de grãos na safra 2011/12 prometem amplificar a pressão sobre as cotações internacionais de milho, trigo e soja nas próximas semanas.
Das projeções envolvendo produtos agrícolas divulgadas mundo afora, as do USDA são as que mais interferem nas negociações de commodities nas bolsas de Chicago e Nova York, que são as principais referências globais para o comércio das matérias-primas em questão. No caso dos grãos, negociados em Chicago e que têm maior liquidez e peso nos índices inflacionários, não houve uma liquidação generalizada de contratos futuros na sexta-feira por causa do USDA, mas os novos números do órgão sugerem quadros de oferta e demanda menos justos.
Se forem consideradas apenas as últimas linhas dos balanços globais do USDA a respeito dos principais grãos, a dos estoques finais, o aperto ficou menor no tabuleiro do milho. Nesse caso, o órgão ampliou sua estimativa para 127,19 milhões de toneladas em 2011/12, 4,6% mais que o projetado em novembro e volume apenas 0,8% menor que em 2010/11. Trata-se de um número ainda historicamente baixo – em 2009/10 foram 144,08 milhões de toneladas -, mas, de qualquer forma, são 5,62 milhões de toneladas a mais em oferta em relação a um mês atrás.
Em Chicago, os futuros com vencimento em março, que ocupam a segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), recuaram 1% e fecharam a US$ 5,9425 por bushel (medida equivalente a 25,2 quilos). Modesta, a desvalorização foi contida pela falta de alterações significativas no cenário desenhado para os EUA. Segundo o Valor Data, a segunda posição acumula alta de 3,48% nos últimos 12 meses.
O trigo teve seus estoques finais mundiais em 2011/12 corrigidos pelo USDA para 208,52 milhões de toneladas, 2,9% mais que o previsto em novembro e 4,4% acima de 2010/11. Como no milho, o “mercado” prestou mais atenção nos números americanos, que também representaram ampliação dos estoques, mas realçou que os EUA seguirão como o maior fornecedor do planeta de trigo de alta qualidade. Como resultado desse intrincado raciocínio, a segunda posição (março) caiu apenas 0,17% em Chicago, para US$ 5,96 por bushel (27,2 quilos), e passou a acumular baixa de 24,41% em 12 meses.
No caso da soja, o USDA passou a calcular os estoques finais mundiais em 2011/12 em 64,54 milhões de toneladas, 1,5% mais que o projetado em novembro, mas ainda 5,7% menores que em 2010/11. Mas ao olharem para o quadro dos EUA, os analistas se depararam com estoques finais 17,7% maiores que os estimados em novembro e 7,2% mais gordos que em 2010/11, e as cotações em Chicago registraram queda expressiva. A segunda posição (março) fechou a US$ 11,1650 por bushel (27,2 quilos), 2,25% menos que na véspera, e passou a acumular baixa de 13,48% em 12 meses.
Em tempo: colaborou para a alta dos estoques dos EUA uma previsão de baixa nas exportações do país, agora previstas em 35,38 milhões de toneladas em 2011/12. Assim, o USDA reforçou que o Brasil superará os EUA e assumirá a liderança global em exportações de soja em grão, com 38,5 milhões de toneladas. No Brasil, as mais otimistas projeções públicas ou privadas apontam para cerca de 34 milhões.