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Milho pode frustrar

Safrinha não deve atender expectativas. Mercado ainda adverso no início do plantio tende a evitar ampliação de área e investimento.

Milho pode frustrar

Começaram a ruir as perspectivas de aumentos de área plantada e investimentos em tecnologia na próxima safra de inverno de milho do País, cujo plantio já está em fase inicial no Paraná, maior Estado brasileiro produtor do grão.

As exportações reagiram a partir de setembro, os estoques caíram e a área plantada desabou na safra verão, como previa o mercado. Mas em números absolutos as oscilações foram menores que as projetadas e contiveram a reação dos preços domésticos e o ânimo para a safrinha.

Como informa relatório divulgado ontem pela consultoria Céleres, com sede em Uberlândia (MG), os mais pessimistas acreditam em uma redução de até 20% na área plantada da safrinha do Paraná, líder também na produção de milho de inverno.

O engenheiro agrônomo Róbson Mafioletti, assessor da Ocepar, organização que reúne as cooperativas paranaenses, disse ao Valor que acredita em manutenção ou recuo de até 5% na área em relação ao ano passado, que ficou em cerca de 1,5 milhão de hectares.

A também agrônoma Margorete Demarchi, do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná (Deral/Seab), confirma a mudança de expectativas sobre a safrinha, mas ainda não tem números definitivos que comprovem a diminuição das intenções de plantio.

Segundo ela, a equipe do Deral acaba de retornar do campo com os dados mais recentes sobre os planos dos agricultores para a temporada de inverno, mas eles estão sendo compilados e o primeiro relatório oficial com as intenções de plantio deverá ser divulgado até o fim da semana.

Em seu último relatório sobre oferta e demanda de grãos no Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicou produção de verão de 32,347 milhões de toneladas nesta safra 2009/10, 3,9% menos que em 2008/09, e de 18,141 milhão de toneladas no inverno, 4,6% mais.

No Paraná, onde as chuvas recentes já provocam leve atraso nesta fase inicial de colheita de verão, como ocorre em outros Estados do Centro-Sul – as precipitações também afetam a soja -, as projeções da Conab apontam para 6,470 milhões de toneladas de milho no verão, baixa de 0,8%, e 5,375 milhões no inverno, incremento de 17,4%.

O fato de ser apenas leve a redução prevista para a produção de verão, como atesta a consultoria Agroconsult, colabora para a atual queda de preços e para o desânimo com a safrinha. A área plantada no verão caiu 10,7% no País em 2009/10, para 8,281 milhões de hectares – no Paraná a baixa foi de 27,7%, para 917 mil hectares -, mas o clima ajudou o desenvolvimento das lavouras, ao contrário de 2008/09, e o impacto na oferta tende a ser minimizado.

Como as exportações subiram menos do que se esperava, em parte graças à gorda safra americana colhida no segundo semestre de 2009, principal fator de pressão sobre as cotações internacionais, os preços domésticos estão cerca de 15% mais baixos do que no mesmo período do ano passado.

De acordo com Flávia Sologuren, analista da Céleres, a saca de 60 quilos sai atualmente, em média, por R$ 15,25 nas principais praças de comercialização do País, ante R$ 18,82% em janeiro do ano passado. No Paraná, o Deral apontou média de R$ 14,91 ontem, ante os R$ 17,56 médios de janeiro de 2009.

Na bolsa de Chicago, os contratos com vencimento em maio encerraram a sessão de ontem a US$ 3,7875 por bushel, em alta de 3,25%. Neste janeiro, porém, a baixa acumulada alcança 10,72%, conforme cálculos do Valor Data baseados nos futuros de segunda posição de entrega (normalmente o de maior liquidez). Nos últimos 12 meses, a baixa é de 5,67%.

“A situação não é positiva como se imaginava entre outubro e novembro. Estamos abaixo do preço mínimo [fixado pelo governo em R$ 17,46 no Paraná] e pleiteamos novos leilões de PEP [Prêmio de Escoamento do Produto] para entre 500 mil e 1 milhão de toneladas. Nesse contexto, não teremos aumento da área da safrinha, pelo contrário, e não veremos o aumento de investimentos em tecnologia nas lavouras”, afirma Mafioletti, da Ocepar.

“A atual queda de preços não surpreende. O que surpreende é a mudança do cenário”, diz Margorete, do Deral. Ela realça que, para os produtores, o fato de a safra estar se desenvolvendo bem pode ser garantia de renda maior, porque em 2009 os preços estavam melhores no verão mas havia pouco milho em razão das perdas provocadas pela estiagem – que castigou ainda mais a produção argentina.

Com base na redução da safra de verão, o Ministério da Agricultura trabalha com uma previsão de valor bruto da produção (“da porteira para dentro”) de milho de R$ 13,926 bilhões em 2010, 13,9% menos que em 2009 – quando o tombo na comparação com 2008, por causa da seca, foi de 31,7%.