O Brasil está prestes a colher sua segunda safra de verão de milho, sendo que 50% do cereal cultivado no País já é transgênico. Com as crescentes exportações brasileiras de milho, sobretudo para o continente europeu, o País arrisca-se a elevar seus custos de exportação, caso o comprador exija a separação do cereal entre transgênico e não transgênico. Tomando como base o Protocolo de Cartagena, que orienta os países signatários sobre como deve ser feita a segregação, rastreabilidade e identificação das cargas de vegetais transgênicos no comércio mundial, o Brasil teria um custo adicional de 12,5% nas exportações do cereal.
É o que aponta o estudo feito pelo agrônomo e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) José Maria da Silveira, que também é conselheiro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). Esse custo adicional tornaria o milho brasileiro menos competitivo do que o produzido pelos Estados Unidos e Argentina, outros dois grandes produtores.
Infraestrutura
A falta de infraestrutura nos portos, que não estão adaptados ao processo de separação de cereais transgênicos e convencionais, e a deficiência das rotas de escoamento de produção são as principais razões que tornam a segregação dos grãos muito cara, aponta Silveira, em seu estudo.
Como as distâncias percorridas pela safra de grãos desde o local da produção até os portos é muito grande no Brasil, geralmente acima dos mil quilômetros, são necessários muitos transbordos, ou seja, a carga muda de caminhão várias vezes. “Para sair do Centro-Oeste e chegar ao Porto de Santos (SP) ou de Paranaguá (PR), uma carga passa por três ou quatro transbordos”, afirma Silveira.
A questão é que a cada transbordo a carga tem que passar por testes caros para averiguar se ela contém ou não organismos geneticamente modificados.
“Não só se contém organismos geneticamente modificados, mas quais são esses organismos. Para exportar para Europa, por exemplo, é preciso segregar quais são os tipos de OGMs contidos no cereal, o que é um problema, já que, com muitas trocas de compartimentos de carga, o risco de haver a contaminação dos lotes por vários genes diferentes é alto.” No caso das cargas declaradas como não transgênicas, o nível de organismos modificados não pode ultrapassar 0,9%, conforme exigências europeias.
Se de um lado o estudo indica o custo elevado para fazer a segregação das cargas, por outro esse custo compensa se a segregação for feita para comprovar que a carga é convencional. É o que defende o diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não geneticamente Modificados (Abrange), Ivan Paghi. Segundo ele, como a Europa tem restringido cada vez mais a entrada dos grãos transgênicos e dado preferência para os não modificados, o preço do produto convencional acaba compensando o custo da segregação.
“No ano passado, os produtores que focaram no plantio convencional conseguiram firmar contratos que pagaram até R$ 2 de bônus por saca de milho não transgênico. O mesmo vale para a soja não transgênica”, diz Paghi.