Com o sucesso das últimas duas safrinhas no Brasil Central, os agricultores estão mais confiantes no domínio da tecnologia tanto para a soja precoce quanto para o milho de segunda safra. É importante lembrar que o sucesso de uma ótima produtividade do milho safrinha começa no planejamento da soja precoce no verão.
Primeiramente, os agricultores que estão obtendo altas produtividades de soja precoce e milho safrinha estão considerando as duas culturas como safra. Isto é, estão adubando, plantando com tecnologia, usando cultivares de soja de alta performance e híbridos específicos para o ambiente de safrinha.
Para se iniciar o planejamento do dueto soja precoce e milho safrinha com produtividade e estabilidade, devemos começar com a soja precoce. Escolher os melhores talhões da fazenda ou aqueles que já estejam incorporados no processo produtivo há algum tempo e totalmente corrigidos.
Estas áreas deverão estar com o solo descompactado e perfil de solo corrigido, lembrando que praticamente a partir da floração, na época de safrinha do milho, é natural que não chova mais e a suplementação de água para a cultura, que é de aproximadamente 5 mm/dia (Fancelli, 2004), ficará por conta da eficiência do sistema radicular do milho em absorver água em camadas superiores a 30 cm de profundidade.
Outro fator muito importante é o cuidado na escolha do material precoce de soja, pois 5 dias de antecipação da colheita pode significar um ganho relevante de produtividade. Para isso devemos atentar para as variedades precoces que estão obtendo melhores produtividades e estabilidade em anos anteriores.
No caso da soja precoce, devemos sempre fazer uma adubação condizente com boa produtividade porque estas variedades são bastante exigentes e possuem pouco tempo para absorção, metabolização e transformação dos fotoassimilados em grãos.
Outro fator que pode fazer toda a diferença, não somente para a soja precoce, mas também para o milho safrinha, é uma excelente inoculação com rizóbio. Esta garantirá o suprimento de nitrogênio para a soja precoce para o milho safrinha, lembrando que essa fixação biológica contribuirá muito para suprir os 80 kg de nitrogênio por tonelada de grão de soja a uma produtividade de 55 sc/ha (3,3 toneladas/ha). Serão necessários aproximadamente 260 kg de nitrogênio/ha, ou seja, seria o mesmo que aplicarmos 600 kg de ureia/ha. Deste total necessário para a produtividade de soja, ainda seria possível na situação de safrinha (plantio de milho ainda no verão sob temperatura e umidade elevadas), sobrar 55 kg de nitrogênio/ha para a cultura do milho. Vários resultados têm mostrado que, no geral, é necessário o uso de 1 kg de nitrogênio para produção de uma saca de 60 kg de grãos de milho. Só devido a uma boa inoculação na soja, já teríamos 55 sacos de milho safrinha por hectare.
Como o clima na fase inicial da soja normalmente é instável, o que poderá comprometer a sua produtividade, sem dúvida a manutenção do estande das variedades precoces é fundamental, ainda mais nos plantios do cedo, quando o regime de chuvas ainda não está estabilizado. Para isto, a semente de excelente qualidade, aliada a um bom tratamento de semente é o mais recomendável para essa modalidade.
A escolha do herbicida na soja é outro fator que afetaria mais o milho safrinha do que propriamente a soja precoce. Produtos com residuais acima de 60 dias deverão ser evitados, pois os mesmos podem ocasionar comprometimento do sistema radicular do milho, mesmo não apresentando problemas visuais, mas reduzindo bastante a produtividade do milho safrinha. O fato é que as últimas safrinhas foram de altas produtividades e estas coincidiram com o grande crescimento de soja precoce resistente ao glifosato, produto que não deixa residual no solo, deixando o milho safrinha livre de fitotoxidez.
Quanto ao milho safrinha, recomenda-se o uso de fertilizantes, associando o que foi aplicado na soja, ou melhor, o que sobrou dela e já contando com a mineralização da palhada da soja para fazer a adubação necessária para atingir boas produtividades, não contando com apoio irrestrito da distribuição de chuvas que, convenhamos, foi extremamente satisfatória nas duas últimas safrinhas, mas que é uma variável imprevisível.
O conceito de se utilizar o melhor talhão produtivo da fazenda encaixa-se exatamente aí. Este talhão deverá possuir grande capacidade de suprir os nutrientes que a adubação menos generosa do milho safrinha demanda.
Também com relação ao milho safrinha, temos que lembrar que a maioria dos produtores do cerrado começa o plantio no final de janeiro e, praticamente, durante todo o mês de fevereiro. Durante este período precisamos compreender as características deste plantio. Para tanto, dividiremos o plantio em: plantio do cedo, iniciando em janeiro até 10 de fevereiro; plantio normal, de 11 a 25 de fevereiro; e plantio do tarde, de 26 de fevereiro a início de março.
Para o primeiro plantio no qual temos uma abundância de chuvas e, frequentemente, alta pressão de doenças foliares, como Ferrugem Polysora, Turcicum e Cercospora nas terras altas (acima de 700 metros) e Polysora nas terras baixas (abaixo de 700 metros) e, em alguns casos, alta pressão de doenças de grãos, temos que optar por materiais de alta performance, pois a época é nobre, mesmo apresentando alta pressão dessas doenças.
Para o plantio intermediário de fevereiro, também uma época nobre na safrinha, recomenda-se optar por materiais de alto potencial e já com tolerância a uma possível falta de água na floração. Temos nesta época menor presença de doenças foliares como a Ferrugem Polysora, porém em regiões de altitude acima de 800 metros já começamos a ter forte pressão de Mancha Branca e Cercospora.
Para o plantio de final de fevereiro, no qual a pressão de doenças normalmente é menor, temos um fator restritivo que se chama seca. Nesta situação, duas categorias de híbridos são recomendadas para se obter boas produtividades, que são materiais de floração rápida – não necessariamente materiais de maturação precoce – e, também, materiais que geneticamente conseguem suportar o estresse hídrico e encher todos os grãos da espiga.
Com isso, temos o modelo defendido pela Pioneer desde 1997, que é o Sistema de Combinação de Híbridos. No Sistema de Combinação, os híbridos utilizados devem ser escolhidos levando-se em consideração o ambiente visando ter sempre boa produtividade média, diluindo riscos, principalmente em ambiente de maiores desafios como é o da safrinha.
André Aguirre Ramos – Eng. Agrônomo, M. Sc. Gerente de Produtos e Tecnologia Região Centro da Pioneer Sementes e Luis Carlos Tessaro – Eng. Agrônomo, M. Sc. Gerente de Produtos e Tecnologia Região do MT da Pioneer Sementes