A recente entrada da China no mercado internacional de milho como compradora e a manutenção dos subsídios ao etanol à base do grão nos EUA devem manter os preços do cereal em patamares elevados em 2011, favorecendo, ainda que indiretamente, as exportações brasileiras de milho.
Os volumes importados pela China ainda são pequenos – na safra passada foram 1,3 milhão de toneladas e na atual, 1 milhão -, mas analistas e exportadores consideram que há uma mudança estrutural no país asiático, que está deixando de ser exportador para virar importador de milho, no curto a médio prazo. Na safra 2006/07, a China chegou a exportar mais de cinco milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
No caso do etanol americano, a prorrogação do subsídio de US$ 0,45 por galão do biocombustível misturado à gasolina deve manter elevada a demanda por milho para este fim.
As duas situações favorecem o Brasil. De um lado, o consumo forte nos EUA sustenta os preços internacionais e favorece as exportações brasileiras, que este ano alcançam 10 milhões de toneladas, graças a subsídios ao frete . De outro, a demanda chinesa desloca exportadores de milho, como os EUA, deixando espaço para o Brasil em mercados antes atendidos pelos americanos. “Há uma mudança estrutural na China, onde a produção de carnes cresce a taxas expressivas. O país está gradualmente deixando de ser exportador para se tornar importador”, observa Anderson Galvão, da Céleres. O milho é usado na ração de frango e suínos, principalmente.
O analista reconhece que as importações ainda são pequenas, mas lembra que historicamente a China tinha estoques de 120 milhões a 130 milhões de toneladas de milho. Hoje são 60 milhões.
O governo brasileiro já observa o novo cenário. “A China é um fato novo. Com um estoque desse tamanho não deveria estar importando”, comenta Sílvio Farnese, diretor de programas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Ele diz que se o país se tornar efetivamente importador de milho, haverá impacto no mercado, assim como ocorreu com a soja – a China importará este ano 57 milhões de toneladas da oleaginosa, boa parte dos EUA e do Brasil. Segundo Farnese, há quem avalie que as compras chinesas de milho possam alcançar 10 milhões a 15 milhões de toneladas num prazo de três a quatro anos.
Ainda que o estoque chinês seja gigantesco – maior que a safra brasileira de milho de 52,5 milhões de toneladas -, é preciso considerar que a China vive forte demanda por alimentos, mas tem restrições para ampliar sua agricultura, já que enfrenta déficit de água e solos pobres, principalmente na região norte, como lembra uma fonte de indústria com atuação no país asiático.
Galvão avalia que as tradings que estão no Brasil e exportam soja para a China podem aproveitar os canais já existentes para vender milho. A fonte da indústria concorda e admite que, a depender da demanda, a instalação de uma processadora de milho na China “pode ser viável”.
César Borges, vice-presidente da Caramuru Alimentos, diz que “todo mundo que está no mercado olha para a China”, pois o país é um comprador não só de soja, mas também de milho. O que está na mesa, diz Leonardo Sologuren, diretor da consultoria Clarivi, é a capacidade da China de ampliar seu plantio de milho, hoje em 30 milhões de hectares, em três a quatro milhões nos próximos dez anos. Se isso não ocorrer, diz, o país terá de ampliar as importações em dois a três anos.
Dissonante, Paulo Molinari, da Safras & Mercado, acredita que as importações chinesas foram pontuais, reflexo do excesso de chuvas em regiões de produção. “A China vai se tornar importadora de milho, mas não no ano que vem”, diz.