Sacramentadas as bases para a incorporação da Maeda Agroindustrial, a Brasil Ecodiesel avalia a melhor estratégia para atender às expectativas que criou desde que anunciou que a negociação estava em curso, no fim de outubro.
Conforme José Carlos Aguilera, presidente da empresa, há R$ 140 milhões em caixa para expandir as operações, mas ainda não está resolvido se essa expansão, que passará pela atividade de originação de grãos, será orgânica ou por meio de aquisições – ou, como é possível, das duas maneiras.
Tudo dependerá, segundo ele, do retorno financeiro. Uma resposta óbvia, é verdade, mas que mostra que as dificuldades vividas pelos novos parceiros nos últimos anos, boa parte relacionada à escassez de crédito que se seguiu à quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, deixaram suas cicatrizes.
Para os Maeda, a crise mostrou-se quase fatal. Com mais de oito décadas de história, o grupo, grande produtor de soja e algodão, preparou-se para a safra 2008/09 com custos e preços recordes, mas realizou o que planejou em meio à crise, e as contas não fecharam. Em maio deste ano, ocorreu a venda do controle da empresa familiar ao fundo Arion Capital, cujo principal investidor é o bilionário espanhol Enrique Bañuelos.
No caso da Brasil Ecodiesel, fundada em 2003 para tornar-se a líder no então nascente mercado brasileiro de biodiesel – e que em novembro de 2006 abriu seu capital em bolsa -, os problemas começaram antes da crise, mas aumentaram com ela.
Às dificuldades iniciais no relacionamento com o “mercado”, que questionava a governança da empresa, e ao fracasso do uso da mamona como matéria-prima para a produção do biocombustível – a aposta original do governo e da companhia -, veio uma amarga vitória, já relacionada à crise.
Em dezembro de 2007, a empresa foi a grande vitoriosa do primeiro leilão mandatório de biodiesel da Petrobras, abocanhando 40% do volume demandado. Dois meses depois os preços das commodities agrícolas dispararam, na “bolha” que antecedeu a quebra do Lehman, e o aumento de custos para atender à encomenda fez com que a Ecodiesel entrasse em uma círculo de perda de valor que levou à renegociação de dívidas e aumentos de capital.
“Hoje, além de termos dinheiro em caixa para investir, temos um endividamento líquido positivo de R$ 80 milhões. Mas o problema estratégico não estava resolvido”, diz Aguilera, que esteve à frente da Brasil Ecodiesel durante as negociações que permitiram que a empresa continuasse viva após os problemas financeiros descritos.
Segundo o executivo, as mudanças no perfil do mercado brasileiro de biodiesel, que caminhou para a dependência da soja como matéria-prima e hoje encara uma capacidade ociosa geral da ordem de 50%, passaram a exigir a verticalização das operações.
E foi aí que nasceu a ideia de uma associação com a Maeda Agroindustrial, com seus atuais 93,7 mil hectares plantados – 20 mil próprios – nos Estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia e seu parque industrial para fabricar e armazenar óleo de algodão.
Além disso, o grupo conta com participações de 25% na Tropical Bioenergia (usina sucroalcooleira em Goiás), de 10% na Jaborandi Propriedades e de 25% na Jaborandi Agrícolas, as duas últimas com negócios na área de terras.
Aguilera diz que o endividamento dos Maeda, de R$ 260 milhões, não será problema, e que a venda de uma fazenda do grupo, por R$ 90 milhões, já está engatilhada. Por isso ele garante que a única preocupação é olhar para frente e traçar um plano que resulte na maior empresa agrícola brasileira com ações em bolsa.
O primeiro sinal do “mercado” foi negativo. As ações da Brasil Ecodiesel caíram 7,21% na BM&FBovespa ontem (o Ibovespa caiu 1,68%), no primeiro pregão depois de confirmado o negócio pelo conselho de administração da companhia – ainda falta o sinal verde da assembleia de acionistas que será realizada no próximo dia 23.
E com sócios como Silvio Tini, investidor com participações em diversas empresas que ajudou a resgatar a Ecodiesel da crise e hoje tem 10% da companhia, e Enrique Bañuelos, o principal investidor do Arion Capital que terá, sozinho, 24% da empresa resultante da incorporação (a Maeda Agroindustrial como um todo terá 33%), o foco terá mesmo de estar no retorno financeiro.