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Mercado Externo

Alimento caro na China

China teme tensão social e tenta conter preços de alimentos. Estudantes protestam contra preços nos refeitórios escolares.

Alimento caro na China

Estudantes protestam contra preços nos refeitórios escolares, autoridades locais subsidiam famílias pobres e o governo toma medidas para baixar preços. Tudo aponta para uma coisa: extremo nervosismo diante da alta de preços dos alimentos na China, depois que, em outubro, a inflação atingiu 4,4%, um pico em dois anos.

“A inflação é o inimigo da estabilidade social”, diz Hu Xingdou, professor de economia no Instituto de Tecnologia de Pequim, para quem a inflação poderá chegar a uma faixa entre 10% e 20% no próximo ano, uma previsão mais pessimista do que as da maioria dos economistas.

Nas duas primeiras semanas de novembro, o preço médio de 18 tipos de vegetais no varejo aumentou 62%, ano sobre ano, segundo o Ministério do Comércio.

“Os preços subiram muito. Percebemos isso quando fomos comprar repolhos para o inverno; o preço costumava ser 2 maos por jin [0,5 kg] e agora chegou a 6 ou 7 maos”, diz Xin, um motorista de táxi que mora num subúrbio de Pequim, referindo-se à unidade da moeda chinesa que é equivalente a cerca de US$ 0,01.

Os legisladores têm reagido com uma série de medidas de combate à alta dos preços. Uma série de anúncios coordenados, durante a semana passada, buscou aumentar a oferta, por exemplo, permitindo que caminhões transportadores de vegetais trafeguem gratuitamente nas rodovias e garantindo à população que os preços dos alimentos não vão continuar subindo.

Ministérios também estão empenhados nesse esforço. A agência regulamentadora para o setor bancário está tentando ampliar os empréstimos que beneficiam projetos agrícolas. Representantes do Conselho de Estado estão deslocando-se pelo país em uma viagem de inspeção dos preços dos alimentos e o Ministério da Agricultura está divulgando atualizações otimistas sobre o plantio de trigo no inverno.

“O que o governo vem tentando fazer, até agora, é controlar as expectativas inflacionárias através de propaganda”, disse Arthur Kroeber, diretor da Dragonomics, empresa de pesquisa com sede em Pequim. O Ministério de Assuntos Civis ordenou que os governos locais acelerem os pagamentos da seguridade social para garantir que os pobres possam comprar comida.

Pequim está distribuindo subsídios não recorrentes de 100 yuans (US$ 15) a mais de 220 mil trabalhadores de baixa renda. Na província de Shaanxi, o governo alocou 60 milhões de yuans para ajudar refeitórios universitários a cobrir seus custos.

Esses esforços, combinados com um combate à especulação nos mercados de futuros e com crescentes expectativas de aperto na política monetária, parecem ter produzido o efeito pretendido, pois registraram-se quedas nos valores dos contratos futuros de commodities agrícolas nas últimas duas semanas.

A Comissão Nacional para Desenvolvimento e Reforma diz que as medidas antiespeculação tiveram êxito. Em seu site, a Comissão postou uma lista de quedas de preços de commodities – como milho (queda de 6% em duas semanas), algodão (redução de 24%) e açúcar (barateamento de 14%).

Essa percepção tem sido confirmadas nas ruas. “Vimos aumentos de 40% ou mais nos preços neste ano”, diz um comerciante de legumes próximo da Cidade Proibida, em Pequim. “Mas eu acho que os preços serão estabilizados, agora, porque o governo está falando em controles de preços.”

Embora o governo pareça ter obtido algum sucesso em conter a alta dos preços no curto prazo, alguns analistas advertem que pressões estruturais tornarão mais difícil baixar os preços.

“A causa fundamental do aumento dos preços [de produtos agrícolas] é uma escassez no mercado”, diz Xiong Guosheng, analista de grãos da Shennong, uma consultoria baseada em Wuhan. As medidas do governo podem ter algum impacto no curto prazo, acrescenta ele, mas “não há muito espaço para quedas dos preços”.

O governo insiste em que o abastecimento de legumes e de grãos na China é satisfatório e atribui o aumento de preços à atuação de especuladores.

“Ninguém esperava que os especuladores agissem tão rapidamente, de modo que isso pegou o mercado e as agências reguladoras de surpresa”, disse Jerry Lou, estrategista do Morgan Stanley especializado em China. “Não acho que essa inflação tenha alguma semelhança com a de 1980, quando a China viveu uma escassez estrutural de produtos.”