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Agroindústrias

BRF explica a estrangeiros demora do Cade sobre fusão

Empresa ainda é "a nova denominação da Perdigão". A Brasil Foods comemora dez anos de listagem de ADR na bolsa americana, depois de celebrar, há uma semana, 30 anos na BM&FBovespa.

Na manhã de hoje, os executivos da empresa de alimentos BRF-Brasil Foods tocam o sino que anuncia a abertura do pregão da New York Stock Exchange (Nyse). Atendendo a convite da bolsa americana, celebram os dez anos de listagem dos ADRs da Perdigão, depois de terem comemorado no Brasil, há uma semana, os 30 anos de companhia aberta na BM&FBovespa.

Os últimos resultados divulgados pela companhia mostraram melhora operacional e a capacidade, até o momento, de lidar com o cenário adverso de aumento do preço de grãos e apreciação do real, via repasse de custos e política de hedge. Além da expressiva melhora no endividamento da empresa. No trimestre passado, a relação dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) ficou em 1,9, o menor valor desde a criação da Brasil Foods, em junho de 2009. A dívida líquida estava em R$ 3,85 bilhões.

No entanto, na reunião com investidores internacionais que se seguirá à cerimônia inicial no pregão, a companhia deverá ter de administrar as dúvidas e expectativas em relação a seu futuro. Isso porque 17 meses após a oferta de ações que marcou a criação da Brasil Foods esta ainda é apenas a nova denominação da Perdigão, uma vez que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ainda não aprovou a união das operações da empresa com as da Sadia. Sem a palavra final do órgão, as atividades das duas têm de ser mantidas separadas, o que impede a captura das relevantes sinergias com a operação.

“Mais até do que o doméstico, o investidor estrangeiro não entende essa demora na aprovação. Aqui ela tem de ser prévia ao negócio”, afirma Jose Antonio Fay, diretor-presidente da Brasil Foods. Ele assegura, no entanto, que apesar das estruturas distintas a atividade estratégica da empresa não é afetada. O caixa, cada vez mais robusto, agora em R$ 3,5 bilhões, poderá ser usado para aquisições. “Não no Brasil, obviamente”, diz.

Fay também não quer se arriscar mais a prever quando o Cade encerrará a questão, apesar de não ver nenhuma razão para que a decisão não saia até o primeiro trimestre do ano que vem. Ele afirma que a empresa estava sim muito confiante em relação à rapidez da aprovação do negócio, com poucas ou nenhuma restrição.

“Foi esse o sentimento que passamos ao mercado, pois nunca poderíamos imaginar que nos depararíamos com o parecer da Seae, a nosso ver , muito superficial. Fornecemos muitas informações e estudos para a secretaria que não foram considerados”, diz.

Em junho passado, a secretaria sugeriu duas possibilidades para a liberação da união. Uma delas seria uma espécie de aluguel, por cinco anos, de uma das duas marcas – Sadia ou Perdigão. A outra opção seria a venda de um conjunto de outras marcas, entre elas Batavo, forte no sul do país, mas já de apelo nacional, e Rezende, bastante conhecida em Minas Gerais e no Rio.

Na avaliação da companhia, nenhuma das opções faz sentido, e os estudos mostram que a criação da empresa com a manutenção de suas marcas não fere a concorrência, tampouco prejudicar o consumidor. A secretaria fez uma sugestão, mas o parecer é do Cade, diz o executivo. Logo, apesar de muitos investidores estarem avaliando que a decisão final será muito semelhante à opinião da Seae, Leopoldo Viriato Saboya, vice-presidente de finanças e de relações com investidores da Brasil Foods, explica que a empresa e o Cade mantêm conversas e negociação constantes.

“Trabalhamos para chegarmos a um acordo. O momento em que sair o parecer não será de surpresa para nós, portanto; mas sim a chegada a um consenso. E, nesse sentido, não há riscos de que a questão se transforme em uma disputa na Justiça”, diz.

Antes de explicar o imbróglio com o Cade, a Brasil Foods mostrará hoje aos investidores os números de sua história em Nova York. A empresa é uma das primeiras brasileiras a chegar à bolsa americana, e em dez anos o valor de mercado da companhia cresceu de R$ 2 bilhões para R$ 22 bilhões. As receitas passaram de R$ 2 bilhões em 2000 para R$ 24,43 bilhões em 2009, um crescimento médio anual de 30%.

A negociação diária na Nyse em 2000 era de US$ 200 mil e está hoje em US$ 16 milhões, um crescimento médio anual de 55%. Os números acompanham o crescimento da companhia, que no período fez dez aquisições, sendo as principais Batavo, Eleva e Sadia, segundo os executivos.

Também realizou três ofertas de ações, que somaram R$ 7,3 bilhões, sendo aquela que deu origem à BRF a mais relevante delas. Foram R$ 5,3 bilhões captados para resolver os problemas criados na Sadia após as perdas com apostas no segmento de derivativos. A conclusão dessa oferta, em um momento ainda de crise nos mercados, foi, na avaliação de Fay e Saboya, a maior aprovação já recebida pelos investidores.

E o crédito de confiança, avaliam, permanece neste momento em que, apesar da indefinição sobre sua estrutura, os papéis da Brasil Foods acumulam no ano alta de 7,8% na BM&FBovespa e de 14,7% em Nova York.

O momento atual do setor, de câmbio desfavorável e aumento de custos, fará com que a empresa tenha maior necessidade de capital de giro, mas é considerado pela companhia como parte do negócio.

O Natal de 2010 será o segundo de companhias juntas, mas não integradas. Para os executivos, administrar as empresas em separado tem significado um dispêndio de tempo que não deveria ser necessário. É verdade também que o atraso na aprovação fez com que a nova estrutura fosse pensada com calma, sem atropelo. “Ainda assim, já estamos prontos para funcionar como empresa única há meses”, afirmam.