A onda de turbulência financeira que varre a Europa não apenas está afugentando investidores das bolsas e mercados de renda fixa do continente, mas aparentemente também tem coibido as fusões e aquisições.
Nos últimos dois meses, o valor das aquisições de empresas europeias correspondeu a apenas 26% do total mundial, segundo a Dealogic. É o menor porcentual em qualquer trimestre dos últimos cinco anos.
De fato, após responder habitualmente por mais de 40% do volume mundial de aquisições antes da crise, a contribuição europeia ao bolo das fusões e aquisições caiu continuamente nos últimos dois anos.
A atividade de aquisições prospera quando o cenário econômico e financeiro é benigno e, no momento, a atmosfera na Europa é tudo menos favorável. Dúvidas sobre a capacidade das economias mais fracas da região de evitar a insolvência floresceram com a necessidade da Irlanda de um pacote gigantesco de socorro internacional, esta semana.
Não faz muito tempo, como agosto, alguns banqueiros de fusões e aquisições da Europa ainda expressavam otimismo de que o pior da seca de acordos já tinha passado. Mas agora eles já admitem nos bastidores que há poucos acordos em gestação. Numa pesquisa divulgada ontem pelo UBS AG e a Boston Consulting Group, 40% dos executivos europeus entrevistados disseram que tiveram de cancelar parte ou todos os planos de fusão e aquisição para este ano. O relatório considera 2010 um “ano perdido” para essas transações.
Numa entrevista ao Wall Street Journal, Axel Ross, da Boston Consulting, disse que o número de acordos cancelados em que a empresa trabalhou este ano é o dobro do nível normal.
Mesmo na época de vagas gordas, é preciso alcançar um frágil equilíbrio de fatores complexos nos dois lados para conseguir fechar um acordo. Detalhes aparentemente insignificantes podem atrapalhar tudo – quanto mais os difíceis desafios financeiros e econômicos enfrentados pela Europa no momento, quando crescem as preocupações de que outros países possam seguir o caminho da Irlanda e beirar a insolvência.
Num reflexo desse nervosismo, as bolsas – geralmente o melhor indicador que existe para o grau de fertilidade do cenário para a realização dos acordos – estão em queda, com o índice Stoxx Europe 600 em baixa de 4% nas últimas três semanas em relação ao auge atingido no período após a crise, em 9 de novembro.
Temores de moratória em dívidas soberanas têm atrapalhado os interessados em aquisições desde que os holofotes internacionais se concentraram nos problemas financeiros de Dubai, um ano atrás, e a Grécia precisou de um operação de resgate, este ano. Essas preocupações se somam a uma série de fatores que já estavam desacelerando a máquina europeia de aquisições, como a falta de flexibilidade das leis trabalhistas e a tendência protecionista de países como a França e, cada vez mais, o Reino Unido.
“A atividade europeia de fusões e aquisições está fora de sincronia com o resto do mundo”, disse Dan Stillit, analista do UBS.
Para intensificar a decepção dos bancos, dos escritórios de advocacia e outros consultores que faturam alto organizando os acordos, a fatia da Europa no bolo mundial de fusões e aquisições está encolhendo precisamente no momento em que o bolo em si também passa por um declínio acentuado.
O volume mundial de transações do tipo somou no ano, até o momento, US$ 2,4 trilhões, pouco mais da metade dos US$ 4,3 trilhões alcançados em 2007. Embora a atividade mundial do setor tenha crescido 9% em relação ao baixo nível do ano passado, a Europa enfrenta uma queda de 4%, segundo a Dealogic.
Mesmo assim, ainda há bolsões de vitalidade no mercado europeu de fusões e aquisições. As empresas multinacionais, mesmo as sediadas em países problemáticos, ainda são candidatas atraentes a aquisições. “Os acordos que acontecem hoje em dia realmente fazem sentido estrategicamente”, disse Roland Phillips, diretor do UBS para banco de varejo e de investimento na Europa. O UBS prestou consultoria à Cadbury PLC em sua venda de 11,9 bilhões de libras esterlinas (US$ 17,6 bilhões) à Kraft Foods Inc. este ano. O banco suíço também fez consultoria para a britânica Northern Foods PLC em sua ainda pendente fusão com a Greencore Group PLC, que fabrica refeições do Vigilantes do Peso e tem sede na Irlanda.
O UBS prevê que haverá entre 70 e 80 acordos avaliados em 1 bilhão de euros (US$ 1,3 bilhão) ou mais este ano, ante apenas 54 ano passado, segundo o relatório de hoje.
Embora o fraco movimento na Europa ainda não tenha provocado demissões em massa nos segmentos profissionais que trabalham em aquisições, alguns bancos contrataram muitos funcionários em preparação a um renascimento que acabou não ocorrendo este ano. Se o mercado de fusões continuar em baixa, isso pode forçá-los a recuar tanto em termo de funcionários como nos bônus de fim de ano, dizem banqueiros.