Apesar de o Cade ser a questão principal quando se fala em Brasil Foods atualmente, há alguns meses o mercado começou a ficar atento para algumas mudanças na companhia que começaram a se desenhar e devem tomar forma na assembleia ordinária em abril de 2011.
O assunto nasceu depois de, em abril passado, a gestora de recursos Tarpon ter divulgado que seus fundos haviam atingido uma quantidade de 5% de ações da companhia.
A Tarpon é uma das representantes do chamado “ativismo societário”, gestores que ao comprar fatias em empresas querem contribuir com a sua administração, muitas vezes em aspectos financeiros e de governança e comunicação com o mercado.
No mercado, especula-se que a Tarpon, que atualmente já mantém 6% do papéis da Brasil Foods, pretende se juntar a outros fundos e acionistas da empresa para chegar à assembleia de abril próxima com uma quantidade de ações que lhe permita eleger um integrante do conselho de administração e ter voz ainda mais ativa em seu dia a dia.
Leopoldo Viriato Saboya, vice-presidente de finanças e de relações com investidores da BRF, afirma que a gestora sempre demonstrou grande interesse em ajudar e participar das questões da companhia, o que é bem-vindo e tende a ser construtivo para o negócio. “A Tarpon é um investidor próximo e que tem o interesse em criar valor. Não vemos nenhum problema em tê-los a nosso lado”, diz. A Tarpon não comentou o assunto.
Nessa próxima reunião anual da Brasil Foods será eleito um novo conselho de administração e, internamente, a companhia discute a redução do número de cadeiras no órgão.
Quando a Brasil Foods foi criada, o número de integrantes do conselho foi aumentado em três. Saboya explica que essa modificação é parte de um estatuto transitório da empresa e que foi criado para o período de acomodação de ambas.
Os novos postos foram para pessoas, antes ligadas à Sadia. Dois assentos ficaram com Walter Fontana Filho, ex-presidente, e Roberto Faldini, que era um suplente de conselheiro independente da empresa. O terceiro foi para Luiz Fernando Furlan, que está na co-presidência do conselho, ao lado de Nildemar Sechs, homem forte da Perdigão. A extinção dessas três vagas pode significar o afastamento de três pessoas ligadas à Sadia do comando e foi nessa reformulação que a Tarpon e outros fundos teriam sentido uma oportunidade de ter mais voz na companhia.
“Não sabemos o que vai acontecer na reunião, mas existe a possibilidade de que o órgão volte a ter um número menor de conselheiros”, diz Fay. Até a reunião, afirma, vai haver uma série de articulações para as composições de chapas. Fay lembra que a companhia tem hoje cerca de 50 mil acionistas e um controle difuso no mercado e conta com gestão profissional.
“Nós continuamos trabalhando normalmente”, diz. O executivo diz não contar com a possibilidade um novo grupo de controle na empresa, o que poderia significar uma “destruição de valor” em uma companhia que tem seu perfil já há alguns anos sem um controle definido . “Somos uma das únicas empresas no mundo nesse segmento de alimentos que não é de dono.”
A Brasil Foods possui fundos de pensão como seus principais acionistas, e eles possuem um acordo de voto que vincula 29% das ações. Previ, com 13%, e Petros, com 10%, são os majoritários. A assembleia de abril de 2011 também coincidirá com o fim do período de vigência do acordo, mas a expectativa do mercado é de que ele seja renovado.