A indústria quer garantir abastecimento, o produtor exige um “prêmio” e a Embrapa tem tecnologia de sobra para desenvolver novas variedades para elevar a oferta de soja livre de modificações genéticas. Nesse cenário, a produção da “soja livre” deve prosperar nas próximas duas safras até retomar metade da produção nacional, estima a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
Em estreita parceria, as agroindústrias nacionais, empresas de sementes e produtores rurais decidiram mergulhar em um projeto de R$ 1 milhão com o objetivo de ampliar a oferta de novas variedades de sementes de soja não-transgênica até a safra 2012/2013.
O “Programa Soja Livre” terá áreas demonstrativas em 13 cidades-polo de Mato Grosso, onde a oleaginosa tem forte peso econômico e alta produtividade. Serão testadas 18 variedades em 24 campos. Depois, o produtor poderá optar por ampliar sua área plantada com semente convencional.
Os produtores querem ganhar mais e defendem alternativas para ampliar suas margens no campo. “É importante ter opção de escolha. Tem mercados que pagam a mais, mas não temos o que entregar”, diz o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira. E miram na forte competição global: “Daqui a seis ou sete anos vamos ser o maior produtor mundial de soja. E depender só de multinacionais em sementes é muito perigoso. Temos o privilégio de dispor da Embrapa e de seu imenso banco de germoplasma e conhecimento”, analisa.
As indústrias nacionais concordam com as aspirações dos produtores. “É um sinal claro de interesse pela soja. Tem mercado, há bom nicho remunerador, mas precisamos ajudar a Embrapa a investir em desenvolvimento de novas cultivares”, diz o presidente da associação dos produtores de soja convencional (Abrange), Cesar Borges de Sousa. A entidade reúne Amaggi, Brejeiro, Caramuru, Imcopa e Vanguarda, além de cooperativas, certificadores e exportadores.
Hoje, a indústria paga um “prêmio” entre R$ 1,50 a R$ 2 por saca de soja convencional. E, estima-se, ganha US$ 60 por tonelada do grão vendido ao exterior. A Europa e o Japão são os maiores mercados para a soja convencional. E a indústria ganha mais nos produtos derivados da soja. “Nossa margem é maior no industrializado. Hoje, 70% do farelo exportado é livre. Na lecitina de soja, 90%”, diz Borges.
Diante dessa boa perspectiva de ganhos, os produtores já fizeram suas contas. “O prêmio chega hoje a R$ 120 por hectare. Tem safra que não temos essa rentabilidade nas lavouras. Por isso, avançar com a soja livre significa preservar ganhos futuros”, diz Glauber Silveira.
Ex-governador e senador eleito, o empresário Blairo Maggi (PR-MT) deu outras conotações ao desenvolvimento de novas variedades dessa soja. Em discurso na Embrapa, Maggi afirmou que é “questão de soberania” manter a “independência” do país na produção de sementes convencionais.
A Aprosoja mantém uma disputa de bastidores com empresas multinacionais, sobretudo a Monsanto, sobre os valores de royalties cobrados dos produtores a título de taxa tecnológica. Os preços têm subido a cada safra, o que leva os produtores a buscar alternativas para contrapor os interesses das multinacionais da biotecnologia.
O presidente da Embrapa, Pedro Arraes, afirma que a estatal de pesquisa ajudará no esforço. “A prioridade é oferecer alternativas tecnológicas que possibilitem aos produtores manter sua competitividade no campo. A maneira como essa parceria foi concebida favorece a oferta de variedades de soja desejadas pelo produtor agrícola”, diz. A “soja livre” será vendida por empresas associadas às fundações Cerrados e Triângulo.